mas o Blogger chegou primeiro ao bairro. Tinha um grupo de amigos que fazia inveja a qualquer um. O rapaz era um fenómeno. Não havia alma que não quisesse fazer parte do seu círculo de amizades. E assim andava, feliz, sem grandes ondas! Um dia começou a ouvir dizer que havia um novo vizinho no bairro (parece-me que se chamava "blogosfera", o bairro), e que já começava a cair em graça da vizinhança. Chamava-se Facebook e era muito dado, de muito fácil lidação... bom rapaz! Que era trabalhador, que sabia imensas coisas sobre todos os vizinhos e.... fazia questão de contar tudo a toda a gente! Ainda assim, e sabendo o risco que corriam, pouco a pouco, os vizinhos começaram a contar-lhe a sua vidinha toda! Ora, como bom vizinho fofoqueiro que era, o Facebook não escondia nada de ninguém e, às tantas, já toda a vizinhança sabia da vida do vizinho do lado. E até da vida do vizinho que morava na rua mais longínqua! Foi o descalabro! O Facebook era tão popular, tão giro, tão fresco, que toda a minha gente se esqueceu do Blogger, moço educado, comedido, que só contava da vida alheia aquilo que a vida alheia lhe pedia para contar!
Até eu, me esqueci que o Blogger havia sido meu amigo, com tanto frenesim em torno da nova criatura! É verdade... Esqueci-me, inclusive, de todas as vezes em que desabafei, chorei, sorrir e gargalhei, sem ouvir da sua parte uma reprimenda, uma palavra mais brusca... Pelo contrário! Ficava ali, calado, a ouvir, sossegado... E chegámos a ser cerca de 40, lá os da blogosfera do algarve, que nos juntávamos todos, em torno do rapaz, a conversar, a contar histórias, a partilhar experiências...
Fico triste, hoje, ao perceber que a rapidez do Facebook se sobrepôs à calma do Blogger. Até nisto, o fast ganhou ao slow...
Sei que também sou culpada, alto lá que não me estou a ilibar! Mas agora, que a idade já é outra e a vida me foge das mãos a uma velocidade tremenda, decidi voltar à terra, ao mesmo "bairro" que me viu crescer e quero voltar a falar com o blogger! Aliás, aqui está ele! És sempre tão bom ouvinte! Deixa-te ficar assim, não tenhas pressa nem contes ao mundo o que aqui te digo. Fica entre nós. Entre estes, que por aqui ainda andam. Deixa, seremos só nós. Não faz mal. Ao menos, aqui, a vida corre mais devagar.
Sempre Inocentes. Do princípio das Coisas. Do nunca terminar um feito. Do jamais desistir de um sonho. Do sonhar sem destino. Do mundo. Das coisas. Das pessoas.
30.7.13
Quando as adivinhações se concretizam
toda a vida lhe tinham dito: depois dos trinta? Ai, depois dos 30... Cabelos branco, dor nas costas, o joelho que avisa das intempéries, a pele que não brilha, os dentes que apodrecem, as rugas que aparecem.
Sempre pensou serem apenas umas pragas disfarçadas de certezas de quem sabe.
Fossem o que fossem, eram verdade.
Agora, depois dos trinta, decidira fazer o mesmo: espalhar o pânico na mente das jovens carcaças de 22 anos. Aaaaaaaahhhhhhhhh! E sabia bem, saber que - praga ou certeza - aconteceria, depois dos 30.
Sempre pensou serem apenas umas pragas disfarçadas de certezas de quem sabe.
Fossem o que fossem, eram verdade.
Agora, depois dos trinta, decidira fazer o mesmo: espalhar o pânico na mente das jovens carcaças de 22 anos. Aaaaaaaahhhhhhhhh! E sabia bem, saber que - praga ou certeza - aconteceria, depois dos 30.
29.7.13
Sem título III
Trazia na alma a canção da manhã e no olhar a discussão da noite anterior. Tudo se resolvera na cama, como acontece com as pessoas que não amam. Mas amava. E não compreendia a solidão que teimava em manifestar-se.
Bebeu o café no sítio do costume, encontrou o homem lindo que bebia descafeinado às 8h55, esperou pelas 9h00 e largou 50 cêntimos em cima da mesa. Depois da porta do café da esquina era a selva. O barulho ensurdecedor, o cheiro a mortos-vivos, a cor amarela da cidade.
Baixou os óculos escuros até aos olhos, suspirou e fez-se à calçada. Evitou pisar a merda espalhada pelo chão, não tirou as mãos dos bolsos e acabou por chegar ao destino.
a canção da manhã continuava na alma, mas o olhar era agora de quem vampiriza a alma dos outros. Solidão, raiva, embargo na voz e uma tristeza imensa.
Segunda-feira.
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