30.8.05

Luzes que adivinham emoções

Sempre vivi com esta ideia: vistas de cima, à noite, as cidades são sempre mais bonitas. Ou pode ser a minha veia curiosa a desvendar algo de misterioso nas luzes acesas dos apartamentos, adivinhando vidas diferente, cheias ou vazias, dramas, romances, desamores e choros compulsivos que chegam com o escurecer.

26.8.05

Bestas

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Pergunto-me muitas vezes até onde irá a nossa ignorância. Fomos primários, soubemos crescer e desenvolver a linguagem, juntamente com a capacidade de raciocínio. E começámos a regredir, por cada palavra mal dita, por cada gesto mal feito, por cada atitude inconsequente. Tomara que um dia possamos regressar às origens. Perder a inteligência, as emoções e tornarmo-nos de novo bestas. Seria bestial.
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foto by José Marafona

24.8.05

Dia SIM

Há dias assim, que são SIM. Dias assim, em que o Universo inteiro parece conspirar a meu favor. Ainda que, à minha volta, as coisas pareçam tão feias. O país afunda-se numa maré de pessimismo nunca vista e, a mim, a vida corre-me bem. Sem saber bem porquê, sinto-me com uma força incrível, para dar a quem quiser. Quem estiver desmotivado, avise. Hoje estou em dia SIM.

23.8.05

Em palco

Entrei silenciosamente na sala. Vazia, imponente, cheia de memórias na paredes e em cada um dos assentos. Por ali passarm milhares de curiosos, sedentos de cultura ao mais alto nível. Cheira a mofo e a naftalina, mas também se consegue sentir o cheiro acre das emoções exaladas em palco e recebidas, de coração aberto, na plateia. Percorri o corredor central com os olhos postos no tecto, mas não era para aquele céu que queria ir. Subi ao palco. Tenho horror a palcos. E sinto-lhes uma atracção que não sei explicar. Subi devagar, para que os estalos da madeira não soassem lá fora. Senti o frio na barriga igual àquele que sinto sempre que ligo o micro, em estúdio. Senti-me grande, olhando para a plateia; pequena, olhando para cima. Um palco gigante, onde apetece gritar bem alto e sentir a vibração da minha voz voltar para mim, tocar-me na pele, e arrepiar. Nenhuma fotografia consegue guardar tanta beleza. Nenhum espectáculo fica completo sem subirmos ao palco onde foi encenado. É pelo menos esta a minha certeza. A mesma que me impede de espreitar para lá do pano vermelho mas que me empurra para isso.
E a isso fui. Com um nervoso e medo inexplicável, toquei no aveludado tecido comprido, senti-lhe as emoções e afastei-o para a esquerda. Do lado de lá... a magia de ser diferente, especial e tão importante na formação de milhares de pessoas. Um dia gostava de ser um palco.
Continuo a achar que as salas de teatro têm mais encanto quando não têm lá ninguém. Sente-se tudo na mesma, mas numa relação tão mais íntima...

22.8.05

girassóis

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Hoje sinto-me um girassol. De cabeça no ar à procura do sol, que é como quem diz, há procura das maravilhas deste mundo. Pois, que hoje é segunda-feira...
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foto by YP

18.8.05

Pausa nocturna

Esta noite acordei às 04h46, sem sono. Doía-me a gengiva, lá atrás, no sítio onde, supostamente, não poderá nascer nem mais um dente. Já os tenho todos. Mas dói. E doía-me, quando me levantei. Bebi água fresca, que me aligeirou a dor. Estava calor, a ventoinha incomodava-me, levantei-me. Fui à varanda. Ouvi um silêncio quase absoluto. Não se sentia presença humana. Ouvi galos a cantar, grilos, corujas, cães a ladrar lá ao fundo. O céu estava muito estrelado e identifiquei algo que podia ser um satélite, pela cor. Estive por ali cerca de 20 minutos. Senti-me como há muito não acontecia: cheia de coisas dentro do peito, daquelas boas, que não sabemos o que é. Uma força incrível, uma harmonia, tranquilidade. Acho que senti paz. Daquela que falta no mundo dos Homens mas abunda na natureza. Senti-me melhor. A dor passou. Fui deitar-me. Dormi como um anjinho!

17.8.05

Partida vagarosa

Tolha-me os sentidos, a nebulosidade no céu, que o deixa cinzento e não azul, como o paraíso. Fere-me os tímpanos, o silêncio das andorinhas nos dias em que o sol se esconde mais cedo, num adeus anunciado de Outono que já não tarda. Queima-me a pele, a escuridão precoce dos dias menos longos de fim de Verão.
Ainda assim - agora que sinto o meu Verão a abandonar-me às agruras dos dias menores - esconde-me a tristeza, a beleza do gesto do entardecer. Continua sempre a levar-me para outros locais, onde é sempre Verão.

16.8.05

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Ah, sim? Curioso. Ilegal? Hum... giro! Bem sei que é perigoso, que não têm formação, que podem ficar-se pelo caminho. Mas, se já assim são poucos, o que pensam fazer os senhores que adoram legalidades para proporcionar condições aos bombeiros portugueses? São na maioria voluntários, ganham mal, dormem pouco, arriscam-se demais e ainda são insultados quando o fogo é maior do que eles. Sim, não acho que se devam pôr gaiatos com 16 e 17 anos nas frentes de fogo. Mas também acho mal que andem por aí a fumar droga nos cantos dos prédios, a roubar carros, a enganar velhotes. Isso também é ilegal e não beneficia ninguém. Alguém se preocupa? Alguém vai ao JN denunciar a situação? Ao menos nos bombeiros aprendem valores como tolerância, resistência perante a adversidade e respeito: pela vida, pelas florestas, pelos outros. E por eles mesmos.

Coisas simples

Por cá o SEF andou a legalizar estrangeiros de forma ilegal. Gente corrupta permitiu a legalização, suponho, a um preço simpático. Eram árabes, os legalizados. Parece-me que andam a arranjar lenha para nos queimarmos. E por falar nisso, houve quem já se tivesse, efectivamente, queimado. Lá para o Norte, que o digam as casas, a floresta, os corpos carbonizados. Bombeiros, idosos, animais, árvores. Tudo reduzido a cinza. Mas não desesperemos: no Quénia a vida corre devagar! Qualquer coisa, basta corrermos para um safari no Quénia! Ah, no Quénia! No Quénia está-se bem! A vida corre devagar, sem sobressaltos!
O senhor, "safariano" de gema, até me parecia simpático, agora parece-me mais apático. Tem a casa arder, mas está de férias! Bem sei que férias são férias, só as temos uma vez por ano, mas bolas! Ele tem a casa a arder! Mas no Quénia... Ah, no Quénia... a vida corre devagar!...
E o outro, o Costa a quem a vida não "costa", diz que as casas oferecidas pela PT para as vítimas do incêndios não vão para esses. "Não, estas casas que a PT ofereceu não são para quem já perdeu tudo. São para os próximos." Talvez porque estejam já a planear outros fogos, e, ao que parece, não são de artifício.
Tomara que venham já as autárquicas - pode ser que o "safariano" se "toque" e vá de vez caçar borboletas para o Quénia, que os elefantes também são espécie protegida. Bem, mas a Serra da Estrela também é...

12.8.05

Novidades "leucémicas"

Não sei se cheguei a contar, mas sou a única da família compatível com a minha irmã Elsa para efectuarmos o transplante da medula. O primeiro exame, a que também foi submetida a minha mãe, o meu pai e a minha irmã Cecília, revelou que sou a única que poderá fazer o transplante. Mas como convém ter a certeza, no início de Junho fui a Lisboa fazer mais uns exames para confirmar a compatibilidade. Fizeram-nos ir a Lisboa para fazer o dito exame e só lá estivemos 10 minutos. Foi interessante, mas deixei bem claro que achava um absurdo terem-me feito perder um dia de trabalho para aquilo. Até porque, em Portimão, já existe um espaço adequado para o efeito. Que não, que tinha mesmo de ser ali para o sangue ser logo analisado. Ok, tudo para o bem estar da minha irmã. Disseram-nos que detro de 15 dias estaria tudo pronto e saberíamos, então, o resultado do exame de compatibilidade.
No fim de Julho, um mês e meio depois do prazo dado, impaciente, a minha mãe decidiu ligar para o Hospital para saber se já sabiam de alguma coisa. "Ah, ainda não sabe? Já sabemos oresultado! Elas são totalmente compatíveis. A todos os níveis, sangue, células, ADN, etc..." Curioso, porque não nos diziam nada. "Então e agora, Dra.? Quando é que se faz o transplante?" "Ah, agora tem de esperar.". Ok. Vamos esperar. Talvez uns meses, talvez uns anos. Um dia destes vi uma reportagem em que um senhor esperava o transplante há dois anos. Sim, tinha dador, totalmente compatível. O senhor deve rezar todos os dias para que o seu dador não morra. Ou não contraia uma doença. Ou não mude de ideias.
Este país é uma anedota. E depois solicitam tanto "Ah, dê sangue, seja dador de medula, seja bonzionho, que todos os dias morrem pessoas por falta de dadores.Vá lá!" E quem me garante que a minha irmã se aguenta até lá? E quem me garante que não me dá, a mim, um piripaque? E será que posso fazer o transplante se estiver grávida? Será que, se tiver de fazer uma operação de urgência me deixam fazer o transplante? Não, claro que não. Revolta-me a inércia deste país.
A minha irmã? Está muito bem, felizmente! Voltou à sua vida [quase] normal, está a trabalhar, com os níveis do sangue impecáveis, sem problemas de maior. Felizmente! Oxalá se aguente assim muito tempo. Depois do transplante será tudo mais tranquilo.

11.8.05

Surpresas no caminho

Procurava, tranquila e pacientemente, mais alguma informação acerca da obra "A curva do rio sujo", de Joca Reiners Terron, que pretendo que seja a minha próxima aquisição literária. Sem querer, dei de caras com isto. Fiquei deliciada. Que me desculpem os portugueses, mas os brasileiros sabem fazer disto muito bem. Muito bem mesmo. Antes de comprar o livro vou devorar estes contos. Deliciosos.

10.8.05

Doçuras

Hoje, sem razão aparente, sinto-me particularmente doce. Parece-me que teria doçura suficiente para mimar o mundo inteiro. Alguém quer miminhos?

9.8.05

Roupa Interior

As pessoas estão mais bonitas quando se sentem mais bonitas. E sentem-se mais bonitas quando usam uma peça de roupa ou um acessório preferido. Não que já o tenha confirmado com alguém, mas porque suponho que o sintam como eu. E eu sinto-me mais bonita quando tenho vestida a minha roupa interior favorita. Não se vê, mas eu sei que está lá. E hoje, acredite-se, sinto-me muito bonita. (Só não sei se estarei, de facto.)

Suicídio

Deixou-se ficar a apanhar chuva. De nada valia correr. Ali ficou, imóvel, com os olhos enterrados no chão, curvado, como se pedisse que a terra o engolisse. Lembrou o melhor e o pior da sua vida. Tinha feito de tudo um pouco. Não se arrependia de nada. Ou de quase nada. tinha ficado com uma atravessada na garganta: ter recusado casar com ela, que era hoje uma linda mulher - também só. Agora já pouco lhe restava. Começou a murmurar em voz baixa: valeu a pena. Valeu a pena. Decerto que haviam passado pela sua vida pessoas que tinham aprendido algo consigo. E isso bastava-lhe: saber que tinha deixado cá alguma coisa.
Mantinha os olhos enterrados no chão, como se implorasse que a terra se abrisse de súbito e o engolisse. Mas nada. Teria de ser ele a cavar o abismo para onde queria ir.
A chuva cessou, instalou-se um silêncio total. Era o mundo a permitir-lhe pensar outra vez. Avaliar se, de facto, valeria a pena. Que sim, que valia, que a vida estava vivida. Estava decidido. Olhou para cima, insultou os deuses pela sua insistência. Encheu-se de ódio e de coragem. Meteu os olhos nos chão, implorou que a terra o engolisse e, desta vez, o mundo cedeu à sua vontade.

8.8.05

Mundo paralelo

Barrigas salientes. Biquinis justos. Marcas brancas do ano passado. Cheiro constante a frutos tropicais. Corpos brilhantes, besuntados de óleo-criado-especificamente-para-escaldões. Crianças besuntadas de branco com cremes-altamente-protectores-dos-raios-solares. Chapéus, panamás e bonés nas cabeças. Cus para o ar a apanhar conquilhas. Conversas sobre futebol, noitadas, mulheres, homens, filhos, novelas, crise económica. Construções frágeis, algas por aqui e por ali. E as ondas, que, vagarosamente, se "enrolam na areia".
"Está fria, está boa, está mesmo fria! É só ao entrar, depois está boa."; "Anda, não custa nada!"; "Mergulha já, é mais fácil!"; "Vai-te molhando aos poucos, custa menos!".
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Existe um mundo paralelo ao meu, à beira da água, em todas as praias do Algarve. Por isso gosto de estar sentada na areia molhada, dois metros atrás dessas pessoas que fazem da beira do mar um lugar que assim, lhes parece mais familiar.

Silêncios

Mexia os lábios, articulava as palavras devagar. Mesmo assim ele não a ouvia. Há muito que o ruído se havia intrometido entre eles.
Um silêncio surdo que teimava em permanecer. Como o que se faz ouvir no nascimento de um arco-íris perfeito.

3.8.05

SOL


Nunca seria capaz de sobreviver num país ou numa região onde o sol fosse tímido. Preciso do astro rei para me alimentar a alma. Traz-me paz, dá-me luz e aquece-me o espírito.
Eu sou filha do sol.
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foto by K., in Tavira/2005

1.8.05

Foi assim...






... e foi muito bom!
Bebemos bem, comemos melhor, cantámos, rimos, conhecemo-nos, partilhámos e, sobretudo, "blogámos"! Foi bom! Foi muito bom! Venham mais!