Entrei silenciosamente na sala. Vazia, imponente, cheia de memórias na paredes e em cada um dos assentos. Por ali passarm milhares de curiosos, sedentos de cultura ao mais alto nível. Cheira a mofo e a naftalina, mas também se consegue sentir o cheiro acre das emoções exaladas em palco e recebidas, de coração aberto, na plateia. Percorri o corredor central com os olhos postos no tecto, mas não era para aquele céu que queria ir. Subi ao palco. Tenho horror a palcos. E sinto-lhes uma atracção que não sei explicar. Subi devagar, para que os estalos da madeira não soassem lá fora. Senti o frio na barriga igual àquele que sinto sempre que ligo o micro, em estúdio. Senti-me grande, olhando para a plateia; pequena, olhando para cima. Um palco gigante, onde apetece gritar bem alto e sentir a vibração da minha voz voltar para mim, tocar-me na pele, e arrepiar. Nenhuma fotografia consegue guardar tanta beleza. Nenhum espectáculo fica completo sem subirmos ao palco onde foi encenado. É pelo menos esta a minha certeza. A mesma que me impede de espreitar para lá do pano vermelho mas que me empurra para isso.
E a isso fui. Com um nervoso e medo inexplicável, toquei no aveludado tecido comprido, senti-lhe as emoções e afastei-o para a esquerda. Do lado de lá... a magia de ser diferente, especial e tão importante na formação de milhares de pessoas. Um dia gostava de ser um palco.
Continuo a achar que as salas de teatro têm mais encanto quando não têm lá ninguém. Sente-se tudo na mesma, mas numa relação tão mais íntima...
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