21.7.04

Miudinha

Depois de as consumir, fechei-as dentro do livro. Ajudei-o a subir para a prateleira, ao lado dos seus semelhantes. Embora uns envergassem fatos mais vistosos, a verdade é que este sempre soube que nunca se escolhe um livro pela capa.
Enrolei o tapete que me apoiara na leitura, afastei a música que me acompanhara. Lá fora, um sol radioso e radiante. Cá dentro uma chuva miudinha. Muito miudinha.
O cabelo foi o primeiro a senti-la, pela óbvia localização no topo do objecto. Foi lenta, a absorção das gotas de água miúdas. Mas encharcou. O cabelo, a alma e só depois o peito.
Colado ao corpo, o vestido perdeu a mobilidade.  Só depois me lembrei das palavras do livro. Ajudei-o a descer da estante. Reli o amor, o desprendimento, a calma. E então a chuva miudinha cessou. 

Sem comentários: