8.9.04

Lugares

Disseste-me para nunca voltar aos lugares onde já havia sido feliz. Desobedeci-te. Fora feliz, voltaria a sê-lo. Vesti os calções e a blusa de cavas que vestira nos dias felizes. Enfiei na mochila as coisas do costume que, por costume, me faziam feliz. Dinheiro no bolso, óculos na cara, vontade de ser feliz no peito.
Rumei sem rumo, certa de que o lugar certo me acolheria de novo. Notei que as árvores do caminho de sempre continuavam a tocar-se, formando uma espécie de túnel de vitrais que deixam passar a luz reproduzindo os seus desenhos no chão. Desta vez o caminho pareceu-me mais longo. Percorria-o sozinha.
Pernoitei no lugar onde fomos felizes a primeira vez. Na tua ausência e distância, senti-te dentro de mim. Fui feliz. E voltei a ser. E serei sempre, sempre que souber que a felicidade está em mim contigo, e não nos lugares. Sou feliz cá dentro, onde te guardo juntamente com as memórias dos lugares. É esse o lugar onde sou feliz. E ao qual voltarei sempre. Enquanto nos amarmos.

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