Nunca ninguém lhe dissera o quanto era formosa no acto de lavar a roupa. A mãe agradecia com o jantar. O pai, simplesmente, desconhecia-lhe as virtudes na arte de bem lavar. A avó vangloriava-se do que lhe ensinara. Mas nunca ninguém lhe dissera o quanto era formosa no acto de lavar a roupa.
Talvez fosse do vento que sempre teimava em contornar a esquina onde o tanque fora construído. Talvez fosse das saias rodadas que lhe desciam até ao joelho.
Ou talvez não fosse nada disto, mas dos olhos dele.
Que andavam sedentos de amor molhado e perfumado.
Como a roupa que ela pendurava no arame.
Interrogava-se sobre as razões de nunca niguém lhe ter dito o quanto era formosa no acto de lavar roupa. Não era do sabão azul, concerteza, pois que todas as raparigas novas o usavam. Não seria do cabelo apanhado num rodilho colorido, pois que era moda no vale. Talvez fossem as ancas, que agitava ao ritmo do vai-e-vem da esfrega da roupa. Ou então dos salpicos que, sensualmente, lhe escorriam devagar até aos tornozelos.
Ou talvez não fosse nada disto, mas dos olhos dele.
Ou talvez não fosse nada disto, mas da boca dele.
Que provara a inocência daquele pecado de mulher.
Enquanto ela pendurava a roupa no arame.
Sem comentários:
Enviar um comentário