12.11.04

Pressa na calma da espera

Cheguei à paragem do autocarro e não estava ninguém. O sol que batia de frente convenceu-me a ficar sentada no banco desconfortável da espera. Peguei na pequena "Em Cena", desfolhei página a página, saboreando cada momento das palavras e das ilustrações. Senti-me, de repente, muito acompanhada. Sobretudo pela vida que me vem perseguindo nos últimos meses. E senti-me bem.

Deve ser estranho, nos dias de hoje, oferecer-se o lugar a pessoas mais velhas e cansadas, porque os comentários acerca da minha pessoa foram largos, depois de o fazer a três senhoras avançadas na idade. Comentaram também o cigarro que fumei na espera do autocarro. E a camisola que trazia vestida. E a minha bondade em levantar-me para ceder o lugar.

Pouco passou até que ficasse rodeada de miúdos com mochilas pesadas, jovens de livros debaixo do braço, mais senhoras de sacos na mão, homens com ar preocupado. Só o percebi quando a leitura da "Em Cena" findou. Em segundos alternados, espreitavam cabeças em busca do tão esperado autocarro. Olhares impacientes na calma da espera.

Eu gosto de esperar, quando estou acompanhada deste sol que me amorna, desta vontade de viver que me persegue e de uma boa injecção literária. Mas eles não. Estavam mesmo chateados. Impacientes, com pressa, na calma da espera.

Sem comentários: