Nunca tive medo de escrever as minhas emoções. Antes de o fazer num blog, ou em dois, fazia-o nos papéis que tenho espalhados em inúmeras gavetas. Sempre escrevi, para soltar as emoções cá para fora. Ainda que isso não as tornasse menores, ajudava-me a percebê-las na perspectiva de leitora.
Não tenho nem nunca tive o hábito de reler as palavras escritas por mim. Ainda hoje, quando escrevo um post, apenas o releio uma vez, antes de o publicar, à procura de erros gramaticais e gralhas. Não costumo reler as minhas emoções. E, muitas vezes, prefiro simplesmente não as reviver. Porque sempre que leio, sinto as palavras como se minhas fossem. E são.
Hoje preciso de escrever. Preciso de cuspir a dor que vai cá dentro. Que me tira a vontade de andar de cores vivas. Que me prepara para dias menos felizes. Não gosto de fazer previsões, mas prevejo que vou sofrer muito, nos próximos meses. Uma dor que não é minha. Mas vou sofrer.
Hoje preciso de escrever. Não precisam de ler. Deixem-me apenas deitar cá para fora a emoção e a comoção, que não se vê.
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O primeiro diagnóstico foi leucemia. Pensa-se que poderá ser também linfoma. Mas entretanto, depois do internamento, já disseram que podia ser um vírus no sangue. Nada de grave. Agora há médicos que dizem que pode, sim, ser leucemia. Mas falta completar os exames. E agora, que passou quase uma semana do internamento da minha mana, dizem-nos que terá de ir a Lisboa fazer UM exame. Que, por acaso até se pode fazer aqui em Faro. Mas a "técnica" que faz o exame (à medula) está de baixa, ou de férias, ou de caganeira... ninguém sabe muito bem. E é triste.
É triste que UMA semana depois, ainda não saibam se é leucemia, linfoma, um vírus ou... o que for. E que ela continue internada, à espera que lhe façam os exames. Sem poder partilhar o medo com o marido e com os filhos pequeninos. Sem poder preparar-se psicologicamente para o pior. Sem poder preparar-se para a dor.
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Só tem 29 anos. E parece-me que está bem. Pediu-me para aparecer de vez em quando no hospital, mesmo sabendo que detesto hospitais à excepção do piso das recém-mamãs. Pediu-me, porque tem medo. Tem medo de perder o longo cabelo escuro, porque talvez tenha de fazer quimioterapia. Tem medo de não assitir ao crescimento dos gaiatos, que não percebem o estado da mãe. E eu fui. E gostei muito de a ver. E ela até diz que a comida do hospital melhorou muito desde que nasceu o Miguel, há dois anos e meio. E até a deixam passear, ir ao bar...
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Já chorei o que tinha a chorar, na última quinta-feira. Agora será tempo de acreditar no amor e na força de todos nós. Ter esperança que tudo corra pelo melhor. E esperar que, apesar de todos os sintomas apontarem para uma leucemia, tudo não passe de uma merda de um vírus com instintos terroristas, que chegou sem avisar, sem dar tempo para digerirmos a dor. Nunca acreditei em milagres. Não acontecerão. Acredito sim no poder do Amor. E isso, a nós, não nos falta. Sempre fomos uma Família com maiúsculas, daquelas unidas, que partilham os problemas, as alegrias, as tristezas. Todos juntos, seremos uma só alma. Pronta a destruir qualquer dor provocada pela quimio, pela radio e pela hospitalo-terapia.
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Amo-te muito, mana. E mesmo que o pior esteja para vir, terás as melhores pessoas ao teu lado. Nunca te faltará nada. Nem no pior. Terás sempre o melhor. O nosso Amor.
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