18.2.05

Devaneios

Era virtuosa, fresca e parecia flutuar enquanto cantava à beira do riacho. [Era um riacho daqueles próprios das histórias de encantar, que não estão poluídos e cujos habitantes saltam contentes nas águas cristalinas. Era um desses riachos.] E ela era uma mulher entrada na idade, mas virtuosa, fresca e que flutuava quando cantava. Poderia dizer-se que era a sua voz iluminada que a empurrava para perto dos deuses, mas seria mentira. Nem tão pouco era a qualidade do microfone pois é sabido que junto de riachos é pouco provável que um aparelho electrónico dure muito tempo perto de líquidos.
Mas que flutuava, a digna senhora, flutuava. E ai de quem não o vislumbrasse, por entre a vegetação pouco densa. Era senhora, dona e cantora das vicissitudes da vida. Dona da florestas, dos rios, dos peixes, dos pássaros e do vento. E flutuava quando cantava.
E às vezes, a mim, dá-me para só escrever disparates. Antes isso que cantar.

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