1.2.05

Memórias II

Fazíamos pique-niques, caçávamos borboletas que depois deixávamos nas caixas de correio do prédio todo (que cruéis!), roubávamos nêsperas na "Quinta do Algarve" (que inconsequentes!), atiçávamos os touros do senhor dono da quinta (que medo!), apanhávamos folhas de amoreira para os bichos da seda no Casal do Marco, inventávamos histórias arrepiantes acerca do velhote que morava no fundo da Quinta da Romeira... Fomos crianças durante muito tempo.
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Já no Algarve, a Elsa começou a ter outros interesses, próprios da idade, e deixei de ter com quem jogar jogos de tabuleiro. E chorava porque queria que ela brincasse comigo. E ela tinha pena de mim e levava-me com ela para o café onde se encontrava com namorados furtuitos e amigas despenteadas. Começou a fumar. E eu soube guardar segredo. Sempre guardei os segredos das minhas irmãs. E nunca lhes contei os meus. Mas elas descobriam, em especial a Elsa. Descobriu quando comecei a fumar e não contou aos meus pais. Nem à minha irmã mais velha. Era um segredo nosso. Tivémos tantos.
Temos, ainda, tantos segredos. Prometi guardá-los. E guardá-los-ei.

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