2.5.05

Oscilação da vida

A semana passada a minha irmã esteve com os pés para a cova. Quase a esticar o pernil. Meio cá, meio lá. Esteve a morrer. Pode parecer insensível falar desta forma de algo tão chocante, mas a verdade é que só assim se consegue levar a vida. Já estive com ela depois do "abismo" e ambas brincámos com as palavras - não com a situação.
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A leucemia está tratada e, em príncipio, curada. Agora o bicho mau chama-se quimioterapia, que debilitou o organismo à minha mana, atacando os pontos mais fracos. Na quinta-feira passada a minha irmã esteve a morrer por causa de uma "simples" infecção na vesícula. Azar dos azares, acabou por lhe ser diagnosticada uma Septicemia - coisa má mesmo. Foi operada de urgência, entrou em choque septico, quase em coma, quatro dias sedada para não arrancar os tubos das 14 máquinas a que esteve ligada. entre elas a maquineta da diálise: parou-lhe um rim também. A tensão arterial esteve a 4/2, quase morta. Frases como "aquela rapariga que está ali a morrer" ou ainda "não lhe posso dar esperanças porque ela pode mesmo morrer" foram proferidas por profissionais da saúde que às vezes deviam tirar cursos de relações interpessoais.
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Teimosa como é, a minha irmã "mostrou às putas quem são os paneleiros", que é como quem diz, mostrou como se pode vencer mesmo quando ninguém acredita em nós. Foram dias muito difíceis, mas assim que a febre desceu, que a tensão subiu, que o rim voltou a funcionar, que o ventilador foi desligado e os sedativos reduzidos... percebi que a minha mana Elsa estava pronta para viver!
Agora, tudo ganhou uma nova importância. Algumas coisas passaram a valer menos, outras passaram a valer tudo. E agora sim, acredito que já se safou! Ontem estive com ela... foi muito reconfortante vê-la sorrir e reclamar com as auxiliares quando nos tentavam pôr na rua, no fim da visita. É muito perceber como as coisas perdem ou ganham importância na nossa vida...
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Pormenores: tiraram-lhe a vesícula, mas pode-se viver longos anos sem ela. Na cama ao lado está uma menina de 17 anos, à espera de fazer o transplante da medula com a ajuda da sua irmã de 12. Um exemplo de coragem e determinação extraordinário! Para a semana terei, quase de certeza, a minha mana por cá outra vez!
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Estou muito feliz!!!

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