Na cama, onde o teu corpo, de costas, se abandona
aos meus olhos, e os cabelos se espalham pela almofada,
és a mais bela das mulheres nuas. Os pés, sobre
os lençóis que o amor amarrotou, cruzam-se,
num breve descanso; e o rosto, de olhos
fechados, esconde o desejo que a brancura
me oferece, contra a parede que inscreve
o único limite do nosso amor. O braço direito,
caído para o chão, agarra um vazio que encho
de palavras; e o braço esquerdo, sob os seios,
indica-me o caminho em que cada repetição
é uma descoberta. Se te voltares, abrindo os braços,
e mostrando o peito, saberei o rumo a seguir,
nesta viagem em que és a proa e o vento; mas
se ficares assim, secreto retrato no atelier
do coração, apenas te peço que entreabras
os lábios, para que um murmúrio nasça
de dentro da tela. Então cobrir-te-ei as pernas
com o lençol; espalhar-te-ei pela almofada
os cabelos, escondendo a nuca e o ombro; e
deixarei que este poema se derrame sobre ti,
ateando este fogo com que a tua nudez
me incendeia.
.
by Nuno Júdice, in Geometria Variável
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