17.11.06

Sonho, Verdade, Evasão, Contensão

Bulia tanto como os outros. Não se achava melhor nem pior. Mas tinha um sonho. Vão, vago, vazio e incolor. Mas era em sonho, e isso enaltecia-lhe o ego! Sabia que era um sonho. Mas não sabia dizê-lo. Nem escrevê-lo. Era moço ainda, quando, num acidente de percurso, perdera a capacidade de comunicar com o mundo exterior. Era comum tentar compreender aqueles que o rodeavam, mas... ??? Sempre tão... estranhos! Se ao princípio ainda tentava esforçar-se por manter a atenção centrada nas palavras que não entendia vindas da boca de toda a gente, hoje, desistira. A verdade é que se perdia nos sonhos dos outros, nas suas manias de gente grande, de malta com pretenso futuro. Que sim, que faziam, que tal... mas nada disso lhe parecia real. Desconhecia se a contensão sentimental era propositada ou uma deficiência das pessoas ditas normais. Pensava então que o problema fosse seu. Talvez fosse o autismo, ou o atraso no desenvolvimento cognitivo, ou o acidente de percurso... ninguém sabia, mas a ele não lhe interessava nada disso. Sabia que no seu pequeno grande mundo de evasões constantes, jamais lhe poderiam roubar o sonho! O sonho de ser feliz, apenas o sonho de ser feliz.
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