31.1.14

3 anos a 3

Passámos a ser 3, há 3 anos. Nasceu a coisa mais preciosa da minha vida, a única pela qual tudo vale a pena. O meu amor doce, pequenino e enorme, cheiroso, delicioso e eterno. A minha filha, a minha luz. E mais não digo, porque estas coisas acabam sempre por ser redundantes.

E ver a sua alegria hoje, enquanto me dizia "Mamã, vou fazer três anos" bastou para que todas as coisinhas desta vida fossem só isso. A vida é boa quando temos connosco o amor.

Amo-te tudo, dos mundos todos, minha filha.

30.1.14

Re-post

De tranças compridas enroladas pelos dedos, esperava que o mundo não se lhe apresentasse labiríntico. Não que não pudesse descobrir-lhe o queijo no fundo da rua, mas seria mais fácil seguir apenas em frente. Não recear olhar a curva seguinte. Não temer por uma corrida infrutífera, esbarrando em becos sem saída. Por outro lado, não se importava que a vida lhe parecesse um puzzle, ou um conjunto de peças lego por construir. Era perita em compreender as necessidades de cada buraco do puzzle e encontrar-lhe a peça em falta. Elevar edifícios com Legos era um passatempo que facilmente se poderia tornar num sonho. Criar, construir, sempre com a criatividade como aliada. A vida, afinal, era só isso, por enquanto: um puzzle por completar, um lego por construir. Algo que estava ao seu alcance, assim o quisesse.
As pessoas já não as via tão simples na lide. Pareciam-se mais com as voltas dos seus cabelos nas tranças compridas, enroladas pelos seus próprios dedos. Auto-complicam-se.

escrito em Outubro de 2006. Há coisas que nunca mudam. 

29.1.14

O meu testamento

Ando aqui com uma entalada na garganta para escrever, há mais de uma semana. E não consigo. E não é que não saiba o que quero escrever. Não é que esteja "aqui debaixo da língua" e não saia. Não, não é isso. Sei bem demais, até. É daquelas coisas que, de tanto significarem para  mim, me custam verbalizar. É que, acredito, quando verbalizamos o que pensamos, sentimos e queremos dizer aos outros, parece que perdem valor. Não é? A mim parece-me.
Por outro lado, também se eternizam, portanto... não sei bem o que pensar sobre isso. Mas é tanta a "coisa" que me agita a mente neste momento e queria tanto escrever sobre ela e custa-me tanto...
Deus anda de roda de mim há uns tempos. A fazer-me pensar nele mais vezes do que as que gostaria. E ocorrem-me pensamentos antigos, ideias novas, sentimentos contraditórios. Mas o fulano anda aqui de volta a tentar qualquer coisa. E logo eu, que nem sequer acredito na sua existência.
Ainda no Domingo duas senhoras (mais uma que outra) me bateram à porta munidas da palavra de Jeová, um folheto sobre quem governa o mundo actualmente e um sorriso pouco convincente. A senhora (a mais), informou-me, diz que existem evidências da existência de Deus. Ainda pensei em perguntar-lhe quais, mas o almoço estava ao lume e, já se sabe, uma caldeirada, para estar perfeita, tem de ter sempre um olhar a acompanhá-la.
Nem a minha filha conseguiu permanecer mais que 30 segundos à porta, a ouvi-la. Mas coitada, a senhora até queria ser simpática. E foi, de facto. Mas... opá... arranjem novos argumentos, porque eu desarmo-vos sempre tão rápido que já deixou de ter graça....
Enfim. Isto não fica por aqui, que as "coisas" ainda cá estão na garganta.

Filhos desaparecidos, meninas doentes com câncros, animais abandonados e programas de televisão ridículos, fracos, pobres e tãããããooo miseráveis... E tudo me conduz sempre ao mesmo "senhor": esse Deus que anda de roda há uns tempos. Voltarei para acabar o "testamento".

2.1.14

2 de Janeiro

Não sou boa com datas. Nunca fui. Sei alguns aniversários, alguns feriados e recordo apenas uma ou duas datas marcantes na História de Portugal. Sei que o Natal é a 25 de Dezembro, a revolução foi a 25 de Abril e mudámo-nos para o Algarve, do "alto dos meus 8 anos", no dia 9 de Junho de 1988. Para Beja, vim no dia 8/8/2008 e a minha filha nasceu a 31 de um dos meses, para mim, mais tristes do ano.
Há uma data, no entanto, que me incomoda, corrói e faz sempre chorar, todos os anos, desde 2007. 02 de Janeiro. O dia de hoje.
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O Shumacker está doente, a morrer, num coma induzido. Teêm-me aborrecido as notícias na televisão sobre isso. Aborreceu-me ouvir, ontem, a sua assessora a dizer que está estável, mas num estado crítico. Quer isto dizer, portanto, criticamente estável. Ou melhor: nem melhor, nem pior - num estado irremediavelemente crítico. Foi isto que ouvi há uns anos da boca do médico que acompanhava a minha irmã no IPO, em Lisboa. Também ela estava num coma induzido, desde dia 19 de Dezembro. Para que não sentisse as dores, diziam os médicos. Estava em falência orgânica. Primeiro os rins, depois o fígado, os pulmões.... e por aí fora, como poderão imaginar. Como sempre aconteceu desde o início do seu tratamento, mais uma vez, os médicos e toda a equipa, foram incansáveis e muito humanos. "Esperaram" que celebrássemos (na medida do possível) o Natal e a passagem de ano. E só depois, no dia 02 de Janeiro de 2007, desligaram as máquinas. Pouco passava das 9 da manhã quando recebemos o telefonema. Sei que fizemos a viagem de Olhão até Sto. André (onde estavam os meus pais), mas não me consigo lembrar do percurso.
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Lembro-me de todos os familiares e amigos me dizerem "tens de ser forte pela tua mãe". Todos me pediram tanto que assim fiz. Chorei muito, compulsivamente, durante os primeiros dias. E depois percebi que teria mesmo de ser forte pela minha mãe. E fui, durante muito tempo. "Esqueci" a morte da minha irmã e a minha mãe passou a ser a minha preocupação. A minha avó, mãe da minha mãe, morrera 3 meses antes. Um ano e meio depois foi a vez do meu pai. Morreu subitamente, de uma foram estúpida, arrogante e sofrida. E quando percebi que a minha mãe, afinal, era mulher para aguentar também a perda do marido além da perda da mãe e da filha, percebi que eu própria, ainda não fizera o meu luto. Só quando me mudei para Beja e me afastei da vida que me "roubara" três pessoas que tanto amava, é que percebi que tinha muita dor cá dentro.
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Não vou mentir, a morte da minha irmã foi a maior dor que senti em toda a minha vida. Não consigo, ainda hoje, perceber este amor que não acaba, esta saudade que só aumenta e o choro que, repetidamente, teima em acontecer quando me lembro dela. Éramos muito próximas, muito cúmplices, muito amigas. Acho que nem sequer com a minha mãe tenho uma relação assim. E continua a doer sempre muito constatar que de nada serviu o transplante, e - pior - que a vida e o universo não olham a quem ceifam a vida.
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Aprendi a aceitar, e aceito, a sua morte. Custa-me muito mais aceitar o meu sofrimento e a minha dor. E o tempo de nada me serve. É mentira quando se diz que o tempo cura tudo. Neste caso, só sinto que o tempo é o meu pior inimigo. Não consigo, com tempo, apaziguar a saudade nem consigo voltar atrás para vivermos mais daquela alegria. Não lamento não termos passado mais tempo juntas. Tenho apenas pena que, na altura, não me tenha apercebido que a vida acaba, para todos. Teria dado mais importância a cada gargalhada, a cada música cantada em dueto, a cada confidência de adolescente, a cada abraço apertadíssimo! Que saudades dos teus abraços gigantes, mana!
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Faz hoje 7 anos que perdi parte de mim. E este dia, por muito que me custe, nunca será o segundo dia de um novo ano. Será sempre o último dia de uma minha vida.