5.11.04

Amanhã, na escadaria, junto ao mar.

Foi o último encontro furtivo a que se atreveram. Desta feita, haviam decidido encontrar-se ali mesmo, ao lado do barco encalhado há anos naquela praia. A desculpa dada pelos dois foi a mesma de sempre - "vou só dar uma voltinha à praia, para arejar". E, de facto, era aquela praia que lhes servia de escape ao mundo real. Roubado à falésia, aquele curto areal servia-lhes para se sentirem um ao outro. Uniam sempre muito os corpos numa quase fusão carnal. Tocavam-se com languidez. Respiravam o pescoço um do outro, numa vontade sôfrega de consumo. Encontravam-se com frequência. Mas sempre sem promessas de encontro. Adivinhavam, apenas, a presença do outro naquele lugar. Amavam-se sem promessas de amor eterno. Sem o peso do futuro. Eram furtivos, os encontros, e assim queriam que continuassem.
Naquela manhã, em que se amaram mais que noutras, ele deixou-a com um sussurro: "Vejo-te amanhã, na escadaria, junto ao mar".
E, no dia seguinte, ela esperou. E desejou, sozinha, que nunca mais lhe prometessem a felicidade.

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