22.12.04

O Nosso Natal

Recordo com saudade o Natal de 85, passado em Santo André, na casa da minha tia Antónia. Morávamos ainda no Seixal, e os meus pais alugaram uma carrinha de 9 lugares para transportar as três filhas, os avós maternos e muitas, muitas prendas. Foi uma viagem como as de muitas crianças. Cantámos muito, contámos os carros vermelhos, contámos as matrículas começadas por D... Tomámos Vomidrine para não vomitar, prometemos portarmo-nos bem... As coisas do costume. E lá fomos. Foi o Natal mais feliz. 6 adultos, 7 crianças e dois cães. Todos debaixo do mesmo tecto, em frente à lareira quentinha da casa da tia Antónia.
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Lá em casa nunca houve a tradição do Pai Natal. É o menino Jesus e respectivos figurantes que fazem parte das minhas recordações de menina. Lembro-me, nesse mesmo Natal de 85, de me ter ajoeilhado frente ao presépio (daqueles mesmo espectaculares, com água, montanhas, muitas luzes, musgo apanhado no cemitério... lindo!) para pedir um Natal Feliz, cheio de paz e harmonia para todos os presentes e ausentes. Lembro-me também de ter achado estranho que tivéssemos de deixar os sapatos junto à lareira para o Pai Natal deixar os presentes. Até porque eles tinham vindo connosco. Mas enfim, sabia que o Pai Natal não existia, naquela altura acreditava no Jesus.
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Durante ano recordei aquele Natal para me dar alegria para os vindouros. E sempre me senti muito feliz nesta época. Mas este ano, que afinal se revelou muito bom para mim e para os meus, tem-me deixado triste. Não propriamente de uma tristeza triste, mas melancólica, nostálgica. A minha mãe tem chorado muito. Sente a falta do meu avô, que morreu três anos depois daquele Natal feliz, em Santo André. O meu pai não demonstra, mas anda triste. Não sei bem porquê. A minha avó, viúva desde 88, chora sempre que vê um spot publicitário cuja música de fundo é natalícia.
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Estão crescidos, sentem saudades dos que não estão já por cá. Sentem saudades, se calhar, de Natais mais felizes, quando éramos muitos, vivos, felizes. Éramos muitos. e era sempre tão feliz, aquele momento, do dia 25 de manhã (madrugada!!!) em que eu, as minhas irmãs e os meus primos acordávamos toda a casa para abrir presentes, comer bolo rei torrado... Era tão bom... também sinto saudades. Também me sinto nostálgica, este ano. Se calhar também cresci.
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É a pura e cruel lei da vida - a substituição. Vão-se uns, nascem outros. Este ano seremos 8 adultos, 3 crianças e um monte de peixinhos de água quente. O Ruka também já cá não está. O meu avô... há muito que se foi. A minha avó desejava já estar com ele.
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Vai ser um Natal diferente. Mas não menos feliz. Apenas mais nostálgico.
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Do fundo deste coração pequenino que ainda me acompanha, desejo que possam agradecer o dia que vão ter. Junto dos vossos adultos, crianças e animais. E que possam fazer das palavras fraternidade, tolerância, amor e partilha leis da vossa vida. Não me façam o favor: sejam mesmo felizes.
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Um beijinho grande

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