27.1.05

Aceitação

A primeira grande questão que se coloca é "Porquê?". E para essa questão não há resposta plausível... nada do que me digam agora contará para o futuro. É, inclusive, indiferente. Está feito, feito está. Nas aulas de meditação, que seguem uma filosofia budista, aprendi o quão importante é percebermos a importância da aceitação das coisas tal como elas são.
Que importarão as lágrimas? Que resultado surtirão as palavras malditas que lançamos aos outros, projectando neles a culpa do mundo e da nossa infelicidade? Nada. Um grande e redondo nada.
Aceito que a minha irmã esteja doente. Aceito, inclusive, que vá sofrer, porque a isso nos habitou a perspectiva ocidental das curas. Aceito. Não me resigno, aceito. A indignação só ajuda a que transforme os meus mais puros sentimentos em monstros como a raiva, a ansiedade, a tristeza, o ódio, o rancor, a mágoa. Aceito. E compreendo. E eu, que estou do lado de cá, da não-existência-de-uma-doença-mortal, tentarei fazer com que aqueles que amo sofram menos. Tenho força para isso. E para muito mais. Farei com que a minha mãe consiga dormir um sono descansado. Ela merece. E não sabe aceitar, porque a filha é dela. Farei com que a minha irmã se sinta útil, nos piores momentos. Incentivá-la-ei a ajudar aqueles que, estando perto dela, não enxergam o poder do amor. E ela será capaz. Porque é forte. Muito forte. E saberá, um dia, aceitar esta prova. A vida será estreita, para os seus largos sorrisos. O futuro será risonho. Acredito muito. E aceito este momento de dor como um caminho para lá chegar.

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