14.2.05

Elsa

Deverão os mais sensíveis estranhar o facto de, recentemente, não ter falado da minha irmã a quem, recordo, foi diagnosticada uma Leucemia Aguda Mielóide.
Não acredito em milagres, mas acredito que, na vida, todos nós temos aquilo que merecemos. Daí que julgue que o sofrimento da minha irmã e de todos nós lá em casa se deva a algo que tenhamos feito nesta ou noutra vida. (pensamento estranho, mas no qual acredito piamente)
Da mesma forma, acredito que a minha irmã merece muito mais da vida do que aquilo que tem tido. Talvez por isso, depois do choque e sofrimento inicial, me tenha convencido que ela vai ser capaz de vencer. A vida ainda vai brilhar para a minha mana. Ela merece.
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Aprendi, com tudo isto, que é importante aceitar as coisas tal como elas são porque, como diz um velhinho ditado espanhol: "Se tens um problema que não tem solução, para quê preocupares-te? Se tens um problema que tem solução, então, para quê preocupares-te?". De nada valeriam as minhas lágrimas e sofrimento profundo, pois isso só alimentaria a tristeza dentro do meu peito, fazendo alastrar a dor a todos os que me rodeiam. Como se sabe, os sentimentos são contagiosos. Os bons e os maus. Não valeria a pena semear a dor psicológica, quando a física - sentida profundamente pela minha irmã - já é tão dolorosa para todos.
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Depois de uma semana intensiva de quimioterapia, 24 sobre 24 horas, a minha mana teve uma semana muito difícil. Não conseguia comer (absolutamente nada!), esteve sempre enjoada, teve uma infecção grave na traqueia, diarreias, fez retenção de líquidos, inchou imenso, mal conseguia falar e, felizmente, só teve uma recaída emocional. Chorou por não poder ver os filhos (a entrada a menores de 12 é proibida) e chorou por não poder ir trabalhar. Foi muito dífícil suportar a febre, que indicavam infecções muito perigosas num organismo tão debilitado, mas hoje, início da segunda semana após o fim do tratamento intensivo, está muito, muito melhor. Há três dias que não tem febre, já come umas colheres de sopa ao almoço e ao jantar, já não tem os gânglios da garganta inchados, já tomou banho sozinha sem se cansar, já não faz retenção de líquidos, já sorri. Já sorri! Ela é forte. Vai melhorar. E vai saber viver um dia de cada vez.
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No meio de tanto desespero, tanto sofrimento, foi muito bom poder contar com pessoas extraordinárias que apareceram de todos os lados e, curiosamente, de lados que não pensámos existir.
Familiares que não víamos há anos e que moram ainda na margem sul, amigos de infância da minha irmã, vizinhos da Quinta Vale da Romeira que não via há 16 anos, os patrões da minha mãe, colegas do meu pai, amigos meus... blogueiros que sem nos conhecerem, estiveram por cá... foi excepcional. Até o director da Staples a nível nacional foi visitar a minha irmã, funcionária da empresa. Foi feita uma acção de sensibilização em todas as lojas da marca para a recolha de sangue. O mesmo director emprestou-lhe um portátil topo de gama, para que se pudesse distrair... Nunca pensei. Pensei que algumas pessoas estivessem mais presentes, neste momento de dor. Mas outras houve que o fizeram. E agradeço do fundo do meu coração. A minha irmã também, decerto.
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Conto com o apoio de sempre, embora, acredite-se, me sinta cheia de força para o que der e vier! Já agora, quem a quiser visitar, pode fazê-lo no serviço de Hematologia, cama 15, do Hospital dos Capuchos, em Lisboa. Elsa Paixão e Silva. O mesmo nome para o qual poderão doar sangue, independentemente do tipo sanguíneo, em qualquer ponto do país, não esquecendo a menção ao seu nome e ao serviço onde está hospitalizada. Não é um caso urgente. Nem quero que façam circular a mensagem, mas se puderem dar uma ajudinha, a família agradece!
Mais uma vez, muito obrigado a todos, por tudo! A vida está lá fora! E eu quero vivê-la de sorriso nos lábios!!!
Beijos!

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