16.2.05

Jorel

Depois das seis da tarde ficava sempre assim: atónito, colado ao vidro da janela do escritório. Embora jovem, sentia-se velho, cansado e eternamente à espera do dia em que tudo seria melhor. Era um rapaz sério, com preferência pelas coisas bonitas da vida. Dava imensa importância aos pormenores, aos pequenos quês do seu trabalho - solitário, introspectivo, compensado.
Esta tarde, quase noite, enrolou carinhosamente o seu longo cachecol à volta do pescoço, despediu-se dos desenhos deitados na secretária, e deixou no ar as palvras de sempre: "Até logo!", ainda que só amanhã o veja novamente.
Guarda no peito uma humildade invejável e um talento desmedido. Idolatra o vento e a chuva, sonha com musas inspiradoras, venera a idade medieval. Tem tudo para ser feliz, mas espera, impacientemente, pelo amor. Esse que, por mais que o procure, tarda em aparecer. E só por isso não é feliz. Mas não o lamenta. E eu sei que não.
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para ti, Jorel

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