4.7.05

Sem açúcar, [1ª parte]

Já a noite ía longa quando chegou a casa. Meteu-se imediatamente na banheira, sem perceber que ele ainda a esperava. Ligou a água quente no máximo, ouviu o esquentador a disparar e despiu-se, como quem rasga a alma magoada. Entrou na banheira e sentiu a carne contrair-se pelo calor intenso da água. Só assim conseguirira lavar-se da noite passada atrás do balcão. [Se ao menos tivesse sido só isso...]
Cinco minutos de duche e já a bruma se intensificava na casa-de-banho. O vapor começou a escapar-se pela porta entre-aberta e ele, que por ela esperava há horas, deixou-se embriagar com o cheiro a pêssego do gel duche. Quase em sono profundo, foi até países cujo nome sabem a fruta e em todos eles fez amor com ela. [se ao menos não fosse apenas em sonhos...]
Escaldada, purificada, relaxada e lavada pela água quente, desligou a torneira e esperou pelo silêncio do esquentador apagado. Esperou mais, na esperança de não o ter acordado. Puxou a toalha que nunca havia sido lavada com amaciador. As rugosidades serviam-lhe de esfoliante nas costas, na cara, nos braços e no ventre. Besuntou-se com cremes baratos, penteou os cabelos com os dedos inchados pelo calor. Lavou os dentes a olhar-se no espelho. Percebeu que tinha estado sempre a chorar.
.
N.A. - Nessa noite não vestiu roupa interior. Deitou-se à espera que lhe levassem o corpo, sendo que a alma já não era sua. Estava lavada. Podiam-na levar.

Sem comentários: