5.7.05

Sem açúcar [2ª parte]

Acordou enregelada, no chão, debaixo da cama. Demorou a perceber onde estava, mas pelas caixas forradas a papel de embrulho conseguiu localizar-se. Afastou os rolos de pó que se haviam formado perto de si, espirrou e arrastou-se para fora. Quando se ergue sobre os joelhos, notou que estava do lado dele da cama. Olhou-o com um misto de ternura e de alívio. Estava em terreno seguro. Sentia-se protegida junto dele. E por isso esboçou um sorriso tímido, não fosse ele acordar de repente. [mal sabia ela...]
Viu-lhe os dentes brancos a espreitarem por entre os lábios perfeitos, vermelhos, bem desenhados. Não dormira toda a noite, a tentar perceber porque chorava ela. Ficou preocupado com os gritos que ouvira no sono dela. Estava agitada e só tentava perceber o que se teria passado naquela noite. Não a quis incomodar. Nunca a acordou, pois sabia que não era bom acordar-se sonâmbulos e acontecia muitas vezes ela levantar-se durante a noite, inconscientemente. Tocara-lhe apenas na mão, para tentar acalmá-la. E foi quando ela fugiu para debaixo da cama, num gesto demasiado repentino para ter sido involuntário. Ela não o queria. Era certo. [mal sabia ele...]
Na casa-de-banho a água corria outra vez. Está cheia de calor, pensou ele. e levantou-se, desceu as escadas e começou a preparar o pequeno-almoço.
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N.A. - Naquela manhã não pôs o CD da Björk. Escolheu Sérgio Godinho, "O primeiro dia".

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