25.8.09

Pressa na calma da espera

Cheguei à paragem do autocarro e não estava ninguém. O sol que batia de frente convenceu-me a ficar sentada no banco desconfortável da espera. Peguei na pequena "Em Cena", desfolhei página a página, saboreando cada momento das palavras e das ilustrações. Senti-me, de repente, muito acompanhada. Sobretudo pela vida que me vem perseguindo nos últimos meses. E senti-me bem. Deve ser estranho, nos dias de hoje, oferecer-se o lugar a pessoas mais velhas e cansadas, porque os comentários acerca da minha pessoa foram largos, depois de o fazer a três senhoras avançadas na idade. Comentaram também o cigarro que fumei na espera do autocarro. E a camisola que trazia vestida. E a minha bondade em levantar-me para ceder o lugar. Pouco passou até que ficasse rodeada de miúdos com mochilas pesadas, jovens de livros debaixo do braço, mais senhoras de sacos na mão, homens com ar preocupado. Só o percebi quando a leitura da "Em Cena" findou. Em segundos alternados, espreitavam cabeças em busca do tão esperado autocarro. Olhares impacientes na calma da espera. Eu gosto de esperar, quando estou acompanhada deste sol que me amorna, desta vontade de viver que me persegue e de uma boa injecção literária. Mas eles não. Estavam mesmo chateados. Impacientes, com pressa, na calma da espera.
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Escrevi e publiquei este post em Novembro de 2004. Era, então, uma pessoa muito mais interessante. Eu tinha jeito para a coisa.

5 comentários:

PF disse...

não eras mais interessante, eras mais jovem! O interesse depende de quem te lê. miss u

Rafeiro Perfumado disse...

Que tamanho tens tu, para ofereceres o lugar a três senhoras? ;)

Mulher em terapia disse...

Sim, de facto parece exagero, Rafeiro, mas estamos a falar daqueles bancos de paragem de autocarro em Faro, em qua cabem duas pessoas à vontade ou três apertadinhas! E estava "à Vonté"! Mas sim, até tenho um tamanho considerável! Lol!

Amiga PF... miss u mto! Qd vens cá aos alentejos? beijo grande!

Unknown disse...

"Escrevi e publiquei este post em Novembro de 2004. Era, então, uma pessoa muito mais interessante. Eu tinha jeito para a coisa."

Tinhas, tinhas... isso é verdade, e... tu aí ó Rafeiro!!! fica lá sossegadinho, não te ponhas prá i a abanar a cauda e a mandar bocas, que isto de picar a Softy é um one man show, ainda se fosses um gato fedorento... (*)

Pipi das Meias Altas


(*) Sim, eu percebi onde foste buscar o nome, meu magaaano!

Anónimo disse...

O jeito para a coisa não se aprende, é inato, ou se nasce com, ou nunca aparece. Aprendemos a juntar letras, a conjugar verbos, e as regras ortográficas, mas o sentido que lhe cunhamos não se aprende, não se ensina, e quando se o tem, jamais se o perde. Não perdeste, tens o mesmo interesse, menos idealista, mais real, mas sempre sonhador! Beijos da mana!