2.11.06

Raridade, abundância, montículo e sossego

Observava com relutância o passar do tempo. Passava horas a virar a ampulheta. Apreciava ver cair o fio de areia fina e branca, num movimento contínuo, criando, vagarosamente, um pequeno montículo na parte inferior. No entanto, fazia-lhe espécie que os minutos, as horas, os dias, as semanas e os meses a passarem provocassem tamanha revolta na cabeça dos mais crescidos. É certo: ouvira dizer que, nos dias que correm, ter tempo é uma raridade, mas... valeria a pena gastá-lo lamentando-se?
E ficava assim, relutante, a perceber como é que pequenos grãos de areia poderiam roubar o sossego de viver. Até porque, ao cair dos últimos grãos de areia, a abundância de tempo na parte inferior da ampulheta era evidente! Sim, é verdade que no topo da ampulheta existia agora o vazio, mas bastava inverter o processo, e voltava a sobrar todo o tempo do mundo!
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palavras sugeridas por João Viegas dos Santos

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