31.10.05

Tâmaras com presunto

Ingredientes:
- Uma média de 5 tâmaras (medianas) por pessoa
- Presunto fatiado, a puxar a sal
- Mel
- Palitos
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Confecção:
Enrolar cada uma das tâmaras numa fatia fina de presunto (o suficiente para cobrir a tâmara quase na totalidade), fechando os rolinhos com um palito. Dispor os rolinhos num tabuleiro que possa ir ao forno. Verter sobre cada uma das tâmaras enroladas uma colher de chá de mel. Lever ao forno que não deve estar muito quente. Manter a 150º. Quando começar a cheirar a tâmaras, retire o tabuleiro, dê uma voltinha às tâmaras e volte a colocá-las no forno. Quando o presunto parecer tostadito, retirar, esperar que arrefeça um pouco, servir uns flutes de um vinho verde (ou rosé) e deliciar-se.

"Melhor do que seria de esperar"

No IPO a vida corre devagar, mas bem. Os dias vão passando e a minha mana diz que está tudo a correr melhor do que seria de esperar. Felizmente! Os níveis do sangue continuam a descer, mas assim tem de ser para que tudo corra bem. Não tem tido febres, mas têm de as ter. Pelo menos os médicos dizem que é, neste caso, um sinal de que o organismo dela reconhece as minhas células e vai tentar combatê-las. Como as minhas serão mais fortes, vão vingar e ocupar espaço na medula da minha mana.
E só para que conste, aqui fica mais um comentário que ela nos deixou. (beijinhos mana!)

BOM DIA!

Com alegria! Porque, apesar de segunda-feira, o sol brilha no Algarve, aquece a alma e o coração, reflecte nas gostas de chuva o seu brilho e dá-nos força para enfrentar a semana! (e claro, amanhã é feriado!)

29.10.05

Noites assim

em que o mundo parece parar para nos receber. em que a vida parece mais longa só porque estamos na presença de pessoas que nos amam. em que lá fora a lua nos ilumina, num iluminar sobrenatural, como se nos gritasse: "Venham! Dancem comigo estas canções de viver!". e nós dançamos, num ritual que só nós sabemos, ainda que tudo esteja por descobrir. são assim, as noites que passam por nós, enquanto estamos entre aqueles que nos amam.
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e é disto que andamos à procura: de sermos amados eternamente.

28.10.05

Metamorfose

Estou a crescer. Outra vez. Sinto cá dentro o poder da vida, enquanto tento livrar-me de amarras antigas, que me impedem de seguir em frente. Queria ganhar asas e voar com Fernão Capelo, essa personagem que nos ensina o verdadeiro sentido das relações. Quem me dera poder pousar na mais fina flor, sugar-lhe a magia das cores e o sabor do vento, grávido de boas notícias. Deixar-me ficar no alto de uma montanha alta, encher os pulmões de ar puro e ganhar as forças dos deuses de Olimpo. Mudar o Mundo com o bater de asas sublime, num sopro imperceptível.

27.10.05

Perfeita Imperfeição

Não sei ser mais ninguém. Sou assim, como sou. Frágil a maior parte das vezes. Forte nos momentos certos. Amo com força de vinte marés, choro com a violência de uma tempestade. Rio e sorrio na adversidade da mesma forma que na alegria. Quero sempre mais, mas sou feliz com o que tenho. Amo este mundo, esta luz e a sua ausência, em dias como de hoje - cinzento, lacrimejante, ventoso. Tenho medo de perder quem amo, pavor de perder a capacidade de amar. Deliro com sons bonitos, sou louca por sabores distintos, adoro todas as cores. Sou feliz pela felicidade dos outros.
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E depois disto, ouço uma voz que me sussura: és perfeita, na imperfeição dos seres vivos.

Transplante, parte IV

Está concluída a primeira (e espero que última) tentativa de transplante. Depois de oito horas estendida numa cama, de bracinhos esticados (sem cateter, afinal), a recolha de células foi concluída e a minha mana recebeu, de imediato o líquído precioso. Depois descansei, viajei e cá estou de regresso. Para já, resta esperar. E esperar que tudo corra pelo melhor.
Obrigada, a todos, uma vez mais.

25.10.05

Transplante, parte III

(directamente do IPO, onde me encontro)
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Depois de ter tido alguns dissabores com o serviço do Hospital dos Capuchos, só tenho de dizer maravilhas do IPO, pelo menos da UTM (Unidade de Transplante de Medula). O pessoal parece que nos conhece há anos, tratam-nos pelo nome próprio e recebem-nos como família. Passei a noite no Lar dos Doentes, num quarto altamente acolhedor, com varanda, casa-de-banho privativa e televisão. Dormi mal, ainda assim, devido ao efeito das injecções. É bom sinal, diz o médico. A minha medula está a portar-se bem!
Daqui a 10/15 minutos deverei estar deitada numa maca confortável, com um cateter na perna, para fazer a recolha das células para a minha irmã.
Ontem estive com ela. Ou melhor, falei com ela através de um vidro, por um telefone. Pareceu-me bem, com um ar ainda saudável, embora esteja já a fazer retenção de liquídos, mas é culpa da quimioterapia. Nada de mais. Vamos esperar que o organismo dela aceite, à primeira, as minhas células. O grande dia é amanhã. Mas hoje, confesso, estou nervosa.

21.10.05

Transplante, parte II

Começo a receber, hoje, uma série de 4 injecções que vão estimular a minha medula a produzir mais células imaturas que, quando "inseridas" na minha irmã, vão fazê-la sentir-se melhor. Não imedidatamente, mas a médio prazo irão curá-la. Na segunda feira vou para LX, IPO, e fico lá a dormir, no lar dos doentes. Acho incrível a iniciativa de existir um lar para os doentes que residem longe e que, dirariamente, precisam dos tratamentos dos profissionais, mas que não precisam de estar internados. É um género de "pensão hospitalar". Também me vão acolher, pois tenho de estar às nove da manhã de terça no IPO, para a recolha da "preciosidade" das células da minha medula.
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A minha mana está como que em quarentena, numa salinha pequenina, com cama e espaço para circular um bocadinho. Vai ter de lá ficar, no mínimo, um mês. Não pode receber visitas sem que estas sejam altamente "esterilizadas", devendo, inclusive, fazer uma limpeza e análise às fossas nasais. Incrível. Acho muito bem, tendo em conta que isso só acontece porque a mina irmã não pode apanhar vírus nenhum nesta altura. Ela diz que é chato não poder sair, mas até tem umas regalias! TV cabo, internet e telefone. Vai daí, levou o portátil e agora já nos lê, aqui neste cantinho.
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Deixou-nos um comentário, que passo a transcrever, para perceberem o quão importantes são as vossas palavras:
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"A minha irmã disse-me pra vir aqui ler o que o pessoal me desejava, e realmente é incrível. Aliás, vocês são incríveis. Obrigada a todos pela força, esperança e serenidade. Acreditem que conta muito!
Mana, tu és linda! Amo-te muito!!
Beijos pra todos...
Elsa Paixão 10.20.05 - 9:47 pm"
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Eu fico feliz por fazê-la feliz! Obrigada a todos!

20.10.05

Logicamente

É preciso ser forte para amar. Há que amar para dar. É preciso crer para não chorar. Há que amar para acreditar.

17.10.05

Transplante, parte I

A minha mana lá foi, de malas aviadas, para o IPO, para uma estadia de 6 meses. Começou a quimioterapia esta madrugada, pelas 6 da manhã. Será uma semana intensiva de químicos a entrarem pelo corpo adentro - o objectivo é destruir todas as células da medula dela para que as minhas possam "vingar" no seu organismo. Vai sentir-se muito mal, como seria de prever.
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Entretanto eu, a dadora, terei de tomar umas injecções durante 4 dias, para que o meu organismo produza mais células imaturas, para que a recolha seja mais simples. E no dia 25 lá estarei, pronta para que me retirem aquilo que poderá garantir longos anos de vida à minha mana. Fui avisada que poderei sentir-me mal, com sintomas de gripe, febres incluídas, mas o que é isso quando comparado com a possibilidade de restituir o viver a alguém que se ama?
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Na partida disse-lhe que se mantivesse predisposta a receber o tratamento, ainda que se sentisse a morrer. E mandei-lhe uma mensagem, para que fique guardada para os piores momentos. Chorei, ainda que não o quisesse. Mas o amor é mais forte e a visão de poder perder a minha irmã dá-me cabo do juízo.
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O Natal? Talvez o possa passar connosco. Mas isso são pormenores. Agora é importante que corra tudo bem. O futuro... para já o futuro é algo que está longe.

11.10.05

Nas mãos


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Trazia nos olhos o sol da manhã. Na boca o sorriso da alegria. Nas mãos, trazia a vida bem desenhada: confusa, imprecisa, misteriosa e incerta.
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autor da foto desconhecido, in Rotas & Destinos

5.10.05

Mortes

Hoje sonhei com mortes. Pouco vulgares, mas mortes. Sonhei que o SP tinha morrido, na viagem que deverá estar ainda a fazer. Chorei muito e acordei precisamente a fazê-lo. Demorei a perceber se era sonho ou realidade. e depois pensei, já acordada: e se um dia acontece? Como poderei estar perto daqueles que o amam para lhes oferecer um ombro?
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Isto dos blogs tem mais do que se lhe diga. Criam-se laços fortíssimos (com algumas pessoas, claro) e nunca tinha pensado na possibilidade de os ver partir. Deixar de ler os posts. Deixar de contar com as suas visitas calorosas. Perceber que, até na internet, as coisas têm fim. Ainda que por lá permaneçam. Mas tudo isso acontece, claro está. Não conheço nenhum blogger que tenha morrido. Mas penso nisso. E na aflição de poder nunca vir a saber simplesmente porque nunca ninguém irá ao blog escrever: "Caros leitores, desta vez é de vez - o blog termina por aqui. Morri."
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Minha nossa, que pensamentos horríveis... Espero que esteja bem, SP. De saúde e feliz!