Ser, estar, querer, crer e vencer.
Pensar, escrever, conversar, dançar.
Sentir, beber, amar... descansar.
Sorrir, sonhar, criar.
Crescer, conquistar.
Saber, saber, saber.
Viver. E morrer.
Sempre Inocentes. Do princípio das Coisas. Do nunca terminar um feito. Do jamais desistir de um sonho. Do sonhar sem destino. Do mundo. Das coisas. Das pessoas.
28.2.05
25.2.05
Orgulho de ser?
Publiquei o post abaixo, que estava guardado como rascunho há mais de dois meses. Depois fiquei a lê-lo vezes sem conta. Tenho um respeito enorme pelo Che, pelas inúmeras razões que podem adivinhar. Adoro aquela forma que ele tinha de estar na vida. Adoro mesmo. Mas a frase que publiquei abaixo não cabe dentro do meu peito. Não sei bem porquê, mas não consigo visualizá-la a sair da minha boca.
Talvez seja cobarde. Ou não tenha força para morrer de pé.
23.2.05
Parabéns!
A um senhor muito inteligente, extremamente divertido, que quando ri faz desaparecer os olhos. Que tem um coração do tamanho do mundo e uma barriguinha avançada, a acompanhar a idade! Que tem uma forma de falar serena, tranquila, sabida e carinhosa. Fala devagar, baixinho... com doçura!
A um senhor que tem sonhos por concretizar, depois de uma vida vivida intensamente, aproveitada, alegre! Que tem filhos que ama, que tem uma mulher fantástica e cujo nome é SP, como eu. Santos Passos, muitos parabéns. Que a vida seja justa consigo!
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Muitos beijinhos,
com carinho... de SP para SP!
O éter na minha vida
Comecei a fazer rádio não há muito tempo, há pouco mais de 5 anos. Não sabia que ia gostar tanto de comunicar… pelo menos, não desta forma. Hoje sou apaixonada, mas tenho pena de não ter vivido esta experiência há 10 anos atrás. Sei que tudo era mais mágico, as pessoas paravam para ouvir rádio, fazia-se questão de ouvir o locutor x à hora Y e as senhoras apaixonavam-se com frequência pelas vozes daqueles homens que tão bem falavam. Era bonito, diferente, e sem dúvida muito mais enigmático.
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Hoje o maravilhoso mundo da rádio está mais globalizado, e as vozes já têm uma cara. É fácil desvendar os rostos que dão vida às rádios de todo o mundo. A televisão veio roubar um lugar antes dominado pela rádio e hoje, ninguém pára para ouvir aquele programa de rádio. É pena porque o mundo da rádio, apesar de todas as evoluções, é um mundo mágico. Constroem-se sonhos, atravessam-se fronteiras e fazem-se amizades sem se saber.
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Foi a maior escola de vida que podia ter conhecido. Felizmente, e pelas mais variadas razões, aconteceu na idade certa, no momento certo. Aprendi mesmo muito e, obviamente, não falo só do factor rádio, mas sim de relações humanas. Foi uma construção grandiosa e recíproca. E, curiosamente, nunca estive muito tempo sem fazer rádio. Mesmo nas crises, nunca me afastei mais de duas semanas. Desta vez, o afastamento durou 3 semanas. Segunda feira que vem volto à rádio, de uma forma muito mais saudável, criativa, liberta e - calha bem! - bem remunerada!
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É um mundo maravilhoso, mas difícil de compreender, para quem está por fora. Para sentirem como é fazer parte da vida de tantas pessoas, experimentem ouvir rádio com mais atenção, sintam os sentimentos nas vozes dos locutores, porque, acredite-se, não somos máquinas de comunicação. E também vivemos de emoção.
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E segunda-feira que vem... lá estarei, no éter da minha vida!
22.2.05
Iansã
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A propósito disto... fiquei curiosa e fui saber mais.
"Divindade dos ventos, das tempestads e do rio Níger, que corre na Nigéria. De temperamento ardente e impetuoso, terá sido a primeira mulher de Xangô. Simbolizada por chifres de búfalo e um alfange, ela recebe sacrifícios de cabras e oferendas de acarajés. Detesta abóbora e carne de carneiro. Seu dia é quarta-feira. O mês, Agosto. (Museu Afro-Brasileiro, Salvador)
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PS - Notei que é sempre representada com a face meio tapada e os seios descobertos. Porque será?
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21.2.05
A vida é bela e ponto final!
Na vida tudo faz sentido, mesmo as coisas que às vezes nos parecem cruéis. Afinal até essas são manobras de uma força superior para nos fortalecer perante as adversidades.Contra tudo o que me possam dizer, continuo a afirmar que a vida é bela, este é um mundo maravilhoso, e em grande parte, a felicidade depende de nós mesmos.
Sejam felizes, pá!
20.2.05
Lua de mel
Nem sempre conseguimos estar tão juntos como este fim de semana, mas quando o fazemos... vale tanto a pena! E sinto-me sempre tão recompensada pela vida! Amámo-nos, provámo-nos, sentimo-nos mais que noutros dias, e soube sempre tão bem!
Tivémos tempo para nós dois, para cada um de nós e ainda sobrou tempo para estarmos com amigos, para irmos comer fora, requintadamente, passear na serra, petiscar numa tasca, jogar scrabble, ver um bom filme, ouvir música no carro, rir, ver o pôr do sol... Quando estamos juntos o tempo multiplica-se! E acho que é em nossa honra!
É assim que se celebra a vida!
18.2.05
Devaneios
Era virtuosa, fresca e parecia flutuar enquanto cantava à beira do riacho. [Era um riacho daqueles próprios das histórias de encantar, que não estão poluídos e cujos habitantes saltam contentes nas águas cristalinas. Era um desses riachos.] E ela era uma mulher entrada na idade, mas virtuosa, fresca e que flutuava quando cantava. Poderia dizer-se que era a sua voz iluminada que a empurrava para perto dos deuses, mas seria mentira. Nem tão pouco era a qualidade do microfone pois é sabido que junto de riachos é pouco provável que um aparelho electrónico dure muito tempo perto de líquidos.
Mas que flutuava, a digna senhora, flutuava. E ai de quem não o vislumbrasse, por entre a vegetação pouco densa. Era senhora, dona e cantora das vicissitudes da vida. Dona da florestas, dos rios, dos peixes, dos pássaros e do vento. E flutuava quando cantava.
E às vezes, a mim, dá-me para só escrever disparates. Antes isso que cantar.
17.2.05
16.2.05
Bastet
Menina, mulher. Gata, leoa. Flor e espinho. São as primeiras palavras que me ocorrem quando penso em ti, desta forma abstracta, pois que não te conheço. Não sei como és, de que cor são os teus olhos. Mas imagino-os doces nos momentos partilhados com o teu rebento. Imagino-te mulher forte, com força de leoa, ar de criança e doçura de gata melosa.
Tento desenhar-te sentada no trabalho (será que trabalhas sentada?) e vejo que és reservada. Não dás grande confiança. Mas quando amas... explode o peito em regatos de cores vivas, brilhantes.
Acho que ouves muita música, mais do que vês televisão. Acho também que quando chegas a casa acendes as luzes todas, à procura de uma companhia que já tiveste perto de ti.
E digo tudo de graça, sem saber onde está a verdade ou se ela existe.
Se te vestisse como te imagino, usarias jardineiras de ganga larga, com t-shirts coloridas. E andarias sempre de sandálias, com caracóis despenteados e uma inocência de menina e sensualidade de mulher.
Desprendida, inteligente, especial e virtuosa. São as últimas palvras que me ocorrem quando penso em ti, desta forma abstracta, pois que não te conheço.
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Para ti, Bastet
Jorel
Depois das seis da tarde ficava sempre assim: atónito, colado ao vidro da janela do escritório. Embora jovem, sentia-se velho, cansado e eternamente à espera do dia em que tudo seria melhor. Era um rapaz sério, com preferência pelas coisas bonitas da vida. Dava imensa importância aos pormenores, aos pequenos quês do seu trabalho - solitário, introspectivo, compensado.
Esta tarde, quase noite, enrolou carinhosamente o seu longo cachecol à volta do pescoço, despediu-se dos desenhos deitados na secretária, e deixou no ar as palvras de sempre: "Até logo!", ainda que só amanhã o veja novamente.
Guarda no peito uma humildade invejável e um talento desmedido. Idolatra o vento e a chuva, sonha com musas inspiradoras, venera a idade medieval. Tem tudo para ser feliz, mas espera, impacientemente, pelo amor. Esse que, por mais que o procure, tarda em aparecer. E só por isso não é feliz. Mas não o lamenta. E eu sei que não.
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para ti, Jorel
14.2.05
Elsa
Deverão os mais sensíveis estranhar o facto de, recentemente, não ter falado da minha irmã a quem, recordo, foi diagnosticada uma Leucemia Aguda Mielóide.
Não acredito em milagres, mas acredito que, na vida, todos nós temos aquilo que merecemos. Daí que julgue que o sofrimento da minha irmã e de todos nós lá em casa se deva a algo que tenhamos feito nesta ou noutra vida. (pensamento estranho, mas no qual acredito piamente)
Da mesma forma, acredito que a minha irmã merece muito mais da vida do que aquilo que tem tido. Talvez por isso, depois do choque e sofrimento inicial, me tenha convencido que ela vai ser capaz de vencer. A vida ainda vai brilhar para a minha mana. Ela merece.
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Aprendi, com tudo isto, que é importante aceitar as coisas tal como elas são porque, como diz um velhinho ditado espanhol: "Se tens um problema que não tem solução, para quê preocupares-te? Se tens um problema que tem solução, então, para quê preocupares-te?". De nada valeriam as minhas lágrimas e sofrimento profundo, pois isso só alimentaria a tristeza dentro do meu peito, fazendo alastrar a dor a todos os que me rodeiam. Como se sabe, os sentimentos são contagiosos. Os bons e os maus. Não valeria a pena semear a dor psicológica, quando a física - sentida profundamente pela minha irmã - já é tão dolorosa para todos.
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Depois de uma semana intensiva de quimioterapia, 24 sobre 24 horas, a minha mana teve uma semana muito difícil. Não conseguia comer (absolutamente nada!), esteve sempre enjoada, teve uma infecção grave na traqueia, diarreias, fez retenção de líquidos, inchou imenso, mal conseguia falar e, felizmente, só teve uma recaída emocional. Chorou por não poder ver os filhos (a entrada a menores de 12 é proibida) e chorou por não poder ir trabalhar. Foi muito dífícil suportar a febre, que indicavam infecções muito perigosas num organismo tão debilitado, mas hoje, início da segunda semana após o fim do tratamento intensivo, está muito, muito melhor. Há três dias que não tem febre, já come umas colheres de sopa ao almoço e ao jantar, já não tem os gânglios da garganta inchados, já tomou banho sozinha sem se cansar, já não faz retenção de líquidos, já sorri. Já sorri! Ela é forte. Vai melhorar. E vai saber viver um dia de cada vez.
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No meio de tanto desespero, tanto sofrimento, foi muito bom poder contar com pessoas extraordinárias que apareceram de todos os lados e, curiosamente, de lados que não pensámos existir.
Familiares que não víamos há anos e que moram ainda na margem sul, amigos de infância da minha irmã, vizinhos da Quinta Vale da Romeira que não via há 16 anos, os patrões da minha mãe, colegas do meu pai, amigos meus... blogueiros que sem nos conhecerem, estiveram por cá... foi excepcional. Até o director da Staples a nível nacional foi visitar a minha irmã, funcionária da empresa. Foi feita uma acção de sensibilização em todas as lojas da marca para a recolha de sangue. O mesmo director emprestou-lhe um portátil topo de gama, para que se pudesse distrair... Nunca pensei. Pensei que algumas pessoas estivessem mais presentes, neste momento de dor. Mas outras houve que o fizeram. E agradeço do fundo do meu coração. A minha irmã também, decerto.
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Conto com o apoio de sempre, embora, acredite-se, me sinta cheia de força para o que der e vier! Já agora, quem a quiser visitar, pode fazê-lo no serviço de Hematologia, cama 15, do Hospital dos Capuchos, em Lisboa. Elsa Paixão e Silva. O mesmo nome para o qual poderão doar sangue, independentemente do tipo sanguíneo, em qualquer ponto do país, não esquecendo a menção ao seu nome e ao serviço onde está hospitalizada. Não é um caso urgente. Nem quero que façam circular a mensagem, mas se puderem dar uma ajudinha, a família agradece!
Mais uma vez, muito obrigado a todos, por tudo! A vida está lá fora! E eu quero vivê-la de sorriso nos lábios!!!
Beijos!
Meu amor querido,
bem sei que não és dado a estas coisas. Bem sei que celebramos o nosso amor todos os dias. Bem sei que datas fomos nós que as fizémos, até porque não iniciámos o nosso namoro num dia específico. Bem sei que me amas independentemente se é dia 1 de Janeiro, 27 de Setembro ou 14 de Fevereiro. Também sei que preferes jantar comigo num daqueles longos fins-de-semana em que o mundo além de nós deixa de importar. Mas também sei que sabes que adoro comemorações. E que adoro surpresas. E que adoro celebrar o nosso amor sempre que me apetece.
Para hoje apetecia-me um jantarito em minha casa, sem penetras, sem telefones, sem horários. Que passássemos a noite a namorar, enrolados um no outro, daquela maneira que só tu sabes.
De facto tens razão: não é por ser dia dos namorados que alguma coisa muda. Mas faz-me lembrar de como tudo começou, do quanto demorou a solidificarmos esta relação. E faz-me bem lembrar-me do quanto te amo, do quanto me amas, do quanto nos amamos. Independentemente das datas.
És o meu sabor preferido, meu querido! E vou amar-te para sempre! Sinto que o posso dizer!
Para hoje apetecia-me um jantarito em minha casa, sem penetras, sem telefones, sem horários. Que passássemos a noite a namorar, enrolados um no outro, daquela maneira que só tu sabes.
De facto tens razão: não é por ser dia dos namorados que alguma coisa muda. Mas faz-me lembrar de como tudo começou, do quanto demorou a solidificarmos esta relação. E faz-me bem lembrar-me do quanto te amo, do quanto me amas, do quanto nos amamos. Independentemente das datas.
És o meu sabor preferido, meu querido! E vou amar-te para sempre! Sinto que o posso dizer!
11.2.05
Há dias assim
Está um dia tão lindo, neste Algarve que me acolheu há uns anos! Só apetece vestir um vestido de Verão, pôr a mochila às costas e passear nos lugares mais escondidos da região, em busca da beleza deste mundo maravilhoso. Na impossibilidade de o fazer, semi-cerro os olhos, numa tentativa de me deixar transportar pelos pensamentos. É que está mesmo um dia lindo. Vai ser um dia lindo! Sinto-o! E sinto-me particularmente feliz!
10.2.05
Esta noite,
vou dormir como um gatinho. Um soninho tranquilo, quentinho e aconchegado. Mereço, depois de um dia em que "reuniões" foi a palavra de ordem. Isto de trabalhar cansa!
Tenham uma noite descansada! Durmam como gatinhos! Sabe bem!
Até amanhã!
PS - Alguém quer ir jantar ao chinês?
Equanimidade
"No solo da equanimidade, verte a água do amor e planta a semente da compaixão."
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by Monge tibetano, nova tradição Kadampa
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Se tratarmos todos os seres com igual sentimento, sem apego, sem repulsa e sem indiferença, encontramos um equilíbrio interior inigualável. Repare-se que, mesmo aqueles de quem não gostamos muito, são amados por outros. Logo, será que não somos nós que projectamos essa inimizade nesse ser não amado? O mal não pode estar nele, uma vez que é também amado por outros.
Fiz-me entender?
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Amemos todos os seres de igual forma, que não tem de ser intensa. Basta que deixemos de lado o apego (que nada tem a ver com amor), a repulsa e a indiferença. as características "bom", "mau" e indiferente somos nós que as projectamos nos seres que nos rodeiam. Não são intrínsecas aos seres vivos.
Fiz-me entender?
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Acredito que não.
9.2.05
A-BEIRAr-me do Amor
Deixa-me despir-me para ti. Largar no chão as roupas, os sentimentos impuros, as saudades do amanhã, e vem comigo, mergulhar neste mar quente da Beira. Não tenhas medo da noite!, pois que foi ela quem nos conheceu juntos pela primeira vez.
Se a noite fosse má, não deixava que o mar reflectisse a lua nas ondas mornas da Beira.
Sente o chão, a areia molhada pelas águas deste mundo à parte. Vamos viajar, sem chegar a partir, nas ondas que Moçambique dedicou à Beira.
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Vamos fazer amor até que a noite se esconda.
7.2.05
Ser artista
Não são as palmas que fazem bem ao artista. É a possibilidade de deixar tudo por descobrir a quem sente a sua arte. O sentido para além da forma, o sentimento para além do óbvio. É isso que deixa o artista satisfeito.
Estrelas
- As estrelas são luzinhas no céu?
- Não, são pequenos buracos no manto com que a noite se aquece.
5.2.05
Chuva molhada
E se eu pudesse ser água de chuva demorava-me no teu corpo, antes que me sacudisses num gesto repulsivo. Entranhava nos tecidos grossos que transportas até secar no calor da tua pele. Antes que me sacudisses num gesto repulsivo, antes de tocar as pedras da calçada, geladas.
4.2.05
Hibernação
Há fases da nossa vida em que não há mais nada a dizer. Esta é uma dessas fases. Faltam-me as palavras especiais, aquelas que me dão prazer, que me preenchem os sentidos. Por isso vou hibernar por uns tempos e levo comigo a emoção. A inocência, essa, ficará patente. Volto assim que as palavras voltarem a agitar o meu interior. E será sempre um prazer partilhá-las convosco.
3.2.05
Cheiro de Inverno
Apetecia-me muito deitar-me já, enrolada num edredon quentinho, enroscar-me nas tuas pernas e sentir o teu cheiro encher-me os pulmões. É tão doce, o teu cheiro de Inverno.
2.2.05
1.2.05
Memórias II
Fazíamos pique-niques, caçávamos borboletas que depois deixávamos nas caixas de correio do prédio todo (que cruéis!), roubávamos nêsperas na "Quinta do Algarve" (que inconsequentes!), atiçávamos os touros do senhor dono da quinta (que medo!), apanhávamos folhas de amoreira para os bichos da seda no Casal do Marco, inventávamos histórias arrepiantes acerca do velhote que morava no fundo da Quinta da Romeira... Fomos crianças durante muito tempo.
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Já no Algarve, a Elsa começou a ter outros interesses, próprios da idade, e deixei de ter com quem jogar jogos de tabuleiro. E chorava porque queria que ela brincasse comigo. E ela tinha pena de mim e levava-me com ela para o café onde se encontrava com namorados furtuitos e amigas despenteadas. Começou a fumar. E eu soube guardar segredo. Sempre guardei os segredos das minhas irmãs. E nunca lhes contei os meus. Mas elas descobriam, em especial a Elsa. Descobriu quando comecei a fumar e não contou aos meus pais. Nem à minha irmã mais velha. Era um segredo nosso. Tivémos tantos.
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Já no Algarve, a Elsa começou a ter outros interesses, próprios da idade, e deixei de ter com quem jogar jogos de tabuleiro. E chorava porque queria que ela brincasse comigo. E ela tinha pena de mim e levava-me com ela para o café onde se encontrava com namorados furtuitos e amigas despenteadas. Começou a fumar. E eu soube guardar segredo. Sempre guardei os segredos das minhas irmãs. E nunca lhes contei os meus. Mas elas descobriam, em especial a Elsa. Descobriu quando comecei a fumar e não contou aos meus pais. Nem à minha irmã mais velha. Era um segredo nosso. Tivémos tantos.
Temos, ainda, tantos segredos. Prometi guardá-los. E guardá-los-ei.
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