29.7.05

Fim de semana

Julgava eu que era este fim de semana que ia conseguir vegetar. WRONG! Já me arranjaram trabalho para esta noite e amanhã, das 10 às 12h30 também tenho que ir dar voz a umas coisas. Além disso, a não esquecer, que amanhã, é o tão esperado I Encontro Blogalgarve. Vai ser sempre a curtir! e eu que até queria descansar... (é só fita, eu adoro não ter tempo para não fazer nada!)

28.7.05

Insónias

Arrancou para mais uma noite de insónia. Era o costume. Não era do café. Era a falta de alguém a aquecer-lhe os lençois nas noites frias. Era a falta de quem o acordasse a meio de um pesadelo. Era a vida a chamar por si, sem ninguém para o encaminhar. Conformara-se há anos, quando a primeira insónia insistiu em ficar até amanhecer. Precisamente no dia em que ela decidira partir ao entardecer.

Recordar Dezembro de 2004

Hoje senti nascer cá dentro de mim uma luz. Pequenina, mas que me inspira muita confiança. Confio nela. Vai dar-me maiores alegrias. Vou levá-la comigo para onde quer que vá. Porque são assim, as luzes que nascem dentro do peito.
.
by me, em 02 de Dezembro

27.7.05

A vida ensinou-me que, se um dia tropecei (e como tropecei!), é porque tentava avançar. Hoje lembrei-me disto, e vejo como a minha vida tem evoluído, em todos os aspectos, apesar de tantos tropeções.

I can see clearly now!

Ainda não são onze da manhã e o dia já me presenteou com algumas surpresas. Fiquei sem gasóleo a caminho do trabalho. Tive sorte, estava a 500 metros da bomba de gasolina. Problema resolvido. Ainda rimos, eu e o Fernando.
Cheguei à rádio, não havia café. Menos mal: "não bebo!", pensei. Comecei a cabeçear em frente ao computador. "Tenho de beber café", repensei. Saí, atravessei a estrada, fui comprar café. Pingava uma chuva muito miudinha, estava um cheiro fantástico no ar, "ainda bem que não há café!", pensei. Atravessei a estrada, não havia café na mercearia. Apenas Nescafé. "Venha!", pensei, e comecei de imediato a cantar para dentro "I can see clearly now, the rain is gone...". Saí do estabelecimento de 3 metros quadrados, começou a chover a sério. Demorei a conseguir atravessar a estrada - muita gente! Escapei-me com medo de escorregar e já com os dedinhos fora do chinelo a apanharem uma constipação.
A partir daí foi apanhar com ela muito forte. A chuva, claro está. Podia ter corrido, é certo, mas preferi pôr os óculos escuros e olhar para cima, vê-la cair em cima de mim. Cheguei um pingo à redacção. Mas completamente renovada! Água é vida, cada vez mais, e hoje senti-a a cobrir-me dessa benção divina!
.
"I can see clearly now, the rain is gone..."
.
O Nescafé está delicioso e a chuva voltou a ser miudinha. Frágil e tão necessária! Na redacção parece um dia de Verão escaldante, tal é a alegria do pessoal! E melhor: não está um sunshining day!

26.7.05

Recordar Novembro de 2004

I
Por muito que me esforce, nunca sei como desejar o melhor para aqueles que amo. E acabo sempre por permanecer embrulhada nas piores palavras para a situação. É tão mais fácil dar um abraço apertado!
[quem me dera abraçar o mundo inteiro!]
.
by me, em 19 de Novembro
.
II
.
Quero ser homem, só esta noite, para que, desta vez, seja eu a penetrar-te o corpo e a alma. E que seja eu a agarrar-te os cabelos soltos na loucura do prazer.
.
by me, em 12 de Novembro
.
III
.
Foi o último encontro furtivo a que se atreveram. Desta feita, haviam decidido encontrar-se ali mesmo, ao lado do barco encalhado há anos naquela praia. A desculpa dada pelos dois foi a mesma de sempre - "vou só dar uma voltinha à praia, para arejar". E, de facto, era aquela praia que lhes servia de escape ao mundo real. Roubado à falésia, aquele curto areal servia-lhes para se sentirem um ao outro. Uniam sempre muito os corpos numa quase fusão carnal. Tocavam-se com languidez. Respiravam o pescoço um do outro, numa vontade sôfrega de consumo. Encontravam-se com frequência. Mas sempre sem promessas de encontro. Adivinhavam, apenas, a presença do outro naquele lugar. Amavam-se sem promessas de amor eterno. Sem o peso do futuro. Eram furtivos, os encontros, e assim queriam que continuassem.
Naquela manhã, em que se amaram mais que noutras, ele deixou-a com um sussurro: "Vejo-te amanhã, na escadaria, junto ao mar".
E, no dia seguinte, ela esperou. E desejou, sozinha, que nunca mais lhe prometessem a felicidade.
.
by me, em 5 de Novembro

25.7.05

Contradições ao cair da noite

Corpos abandonados nas camas vazias das cidades. Cidades vazias de camas, abandonadas pelos corpos.
.
Corpos abandonados nas camas vazias das cidades. Cidades vazias de camas abandonadas pelos corpos.
Corpos abandonados nas camas vazias das cidades. Cidades vazias de camas abandonadas pelos corpos.
Corpos abandonados nas camas vazias das cidades. Cidades vazias de camas abandonadas pelos corpos.
Corpos abandonados nas camas vazias das cidades. Cidades vazias de camas abandonadas pelos corpos.
Corpos abandonados nas camas vazias das cidades. Cidades vazias de camas abandonadas pelos corpos.
Corpos abandonados nas camas vazias das cidades. Cidades vazias de camas abandonadas pelos corpos.
Corpos abandonados nas camas vazias das cidades. Cidades vazias de camas abandonadas pelos corpos.

Às escuras

Corpos abandonados nas camas vazias das cidades. Às escuras, com sombras mais escuras, interrompidas pela luz entrecortada que entra pelos estores de metal. Daqueles que se puxa o fio e deixam que a luz tome formas diferentes nas paredes escurecidas pelas sombras. Às escuras, na cidade vazia de camas abandonadas pelos corpos.

23.7.05

Elásticos

Segues-me as curvas com os dedos. Percorres-me os elásticos das cuecas, do soutien, com uma vontade sórdida de me tirares do sério. Sabes que desejo que mos afastes da carne, mas insistes em separá-los apenas momentaneamente das curvas. Tira-mos!
Só quero sentir em mim, em cada curva minha, o encaixe perfeito das tuas, o calor enebriante do teu corpo e deixar de saber onde fica o Norte.

22.7.05

Recordar Outubro de 2004

I
.
E ela jurou que era verdade. Que era importante.
E ele jurou que não sabia. Que era a última coisa que pensaria que lhe fazia falta.
Ela não percebeu, até hoje, porque é que ele achou tão estranho.
Ele achou estranho que ela achasse tão importante.
O clítoris, por sua vez, apenas achava aborrecido ser causa de desavenças.
.
by me, em 18 de Outubro
.
II
.
Nunca ninguém lhe dissera o quanto era formosa no acto de lavar a roupa. A mãe agradecia com o jantar. O pai, simplesmente, desconhecia-lhe as virtudes na arte de bem lavar. A avó vangloriava-se do que lhe ensinara. Mas nunca ninguém lhe dissera o quanto era formosa no acto de lavar a roupa.
Talvez fosse do vento que sempre teimava em contornar a esquina onde o tanque fora construído. Talvez fosse das saias rodadas que lhe desciam até ao joelho.
Ou talvez não fosse nada disto, mas dos olhos dele.
Que andavam sedentos de amor molhado e perfumado.
Como a roupa que ela pendurava no arame.
Interrogava-se sobre as razões de nunca niguém lhe ter dito o quanto era formosa no acto de lavar roupa. Não era do sabão azul, concerteza, pois que todas as raparigas novas o usavam. Não seria do cabelo apanhado num rodilho colorido, pois que era moda no vale. Talvez fossem as ancas, que agitava ao ritmo do vai-e-vem da esfrega da roupa. Ou então dos salpicos que, sensualmente, lhe escorriam devagar até aos tornozelos.
Ou talvez não fosse nada disto, mas dos olhos dele.
Ou talvez não fosse nada disto, mas da boca dele.
Que provara a inocência daquele pecado de mulher.
Enquanto ela pendurava a roupa no arame.
.
by me, em 11 de Outubro
.
III
.
Se pudesse andaria sempre com o coração na algibeira, para o poder esfregar na cara daqueles que o esqueceram. E sempre que alguém se lembrasse de cometer uma injustiça, daquelas pequenas mas que magoam, teria que levar com um órgão fortemente inundado de sangue e com uma textura viscosa.
Ou então, e dado que o coração me faz falta onde está, vou passar a arreganhar o meu melhor sorriso. Pode ser que sintam mal e repensem as atitudes... Nunca se sabe!
.
by me, em 19 de Outubro

Estudo de mulher

Na cama, onde o teu corpo, de costas, se abandona
aos meus olhos, e os cabelos se espalham pela almofada,
és a mais bela das mulheres nuas. Os pés, sobre
os lençóis que o amor amarrotou, cruzam-se,
num breve descanso; e o rosto, de olhos
fechados, esconde o desejo que a brancura
me oferece, contra a parede que inscreve
o único limite do nosso amor. O braço direito,
caído para o chão, agarra um vazio que encho
de palavras; e o braço esquerdo, sob os seios,
indica-me o caminho em que cada repetição
é uma descoberta. Se te voltares, abrindo os braços,
e mostrando o peito, saberei o rumo a seguir,
nesta viagem em que és a proa e o vento; mas
se ficares assim, secreto retrato no atelier
do coração, apenas te peço que entreabras
os lábios, para que um murmúrio nasça
de dentro da tela. Então cobrir-te-ei as pernas
com o lençol; espalhar-te-ei pela almofada
os cabelos, escondendo a nuca e o ombro; e
deixarei que este poema se derrame sobre ti,
ateando este fogo com que a tua nudez
me incendeia.

.
by Nuno Júdice, in Geometria Variável

21.7.05

Recordar Setembro de 2004

É por todo o Amor que vos guardo que escrevo. Pelo Amor que nunca soube exprimir o suficiente, por ser assim.
No dia em vos tiver nos meus braços, serão sempre poucas as palavras, os gestos e as melodias para pôr cá fora o que, então, sentirei e, hoje, sinto. Não há Amor como este, o que nasce de dentro de nós e nos transforma em seres perfeitos e multiplicados.
É por todo o amor que vos guardo que tento percorrer os caminhos certos. Que sinto que serei capaz de superar o difícil. Que amo a vida com vontade de vos ver vivos em mim, fora de mim e no mundo, com os outros.
É por todo o amor que vos guardo que sou hoje feliz na infelicidade. Porque o amor que vos guardo é maior.Aguardo-vos e, enquanto isso, guardo-vos todo este amor.
.
by me, em 17 de Setembro de 2004
.
Foi difícil escolher um post do mês de Setembro. Pelo que li andava inspirada! Mas não vos quero enganar: espreitem!

20.7.05

Recordar Agosto de 2004

"Beber um Safari simples e não trincar o gelo é pecado", garantiu o rapaz que passeava, ligeiro, entre as mesas. A ligeireza não o impedia de olhar, incessantemente, para a esquerda e para a direita, lançando um charme digno das mais belas histórias de amor.
Ela bebericava o Safari em goles pequeninos, sôfregos e golosos. Movia-se com demora, lânguida e presunçosa. Torcia-se na cadeira de verga como se de uma chaise longue aveludada se tratasse. Parecia querer mais qualquer coisa além do que os seus olhos revelavam.
As luzes quentes e o cheiro a álcool depressa embriagaram. Despiram-se de jogos, ignoraram as regras antes implementadas.
Beberam-se por ali. Trincaram o gelo. Sentiram o calor.

.
by me, em 17 de Agosto de 2004

19.7.05

Recordar Julho de 2004

Apagou as luzes e abriu as cortinas para deixar entrar as cores daquela noite. Perfumou o copo de vinho, lançou no ar as notas da música, balbuciou as letras das palavras importantes. Estava ocupado.
.
Ela deteve-se presa à cadeira que a sustinha. Vestida apenas de luz e sombra, despiu-se de preconceitos. Brincou com o cabelo. Segurava-o em pequenas mechas, enrodilhava-as nos dedos, soltava-o. O ritual repetia-se. Estava ocupada.
.
Naquela noite, de cores pálidas, não fizeram amor.

.
by me, em 22 de Julho de 2004

18.7.05

Um ano de escrita

Afinal quem tinha razão era o Asul. O Sempre Inocentes fez um ano no dia 15 e eu estava convencida que seria no dia 27, altura em que coloquei o contador de visitas. Tinha a sensação de que o tinha feito no dia do primeiro post, mas enganei-me! Valha-me o meu "krido" Asulado, que me relembra destas coisas!
Pronto, agora resta-me dizer que foi uma experiência muito interessante, ter escrito durante um ano algumas das coisas que tinha receio de dizer, outras que tinha guardadas em segredo só para mim e outras ainda que jamais pensei ser capaz de escrever num local público. Como sou dessas coisas, vou fazer, nos próximos dias, transcrições daqueles que considero os melhores posts de cada um dos meses do último ano de actividade do Sempre Inocentes.
E só para que conste, adorei saber que muitos continuam a cá vir ler-me, depois de 365 dias! Obrigadinha! É uma honra, deveras!

15.7.05

Voluptuosidade

Escapadela

Vamos fugir daqui, mais uma vez. Não que haja alguma coisa que nos meta medo, que nos oprima ou que nos torture, mas vamos. Vamos bem acompanhados, temos um bom programa, Inclui um passeio no Alentejo profundo, um concerto, uma visita histórica, uma noite louca, um quarto fresco e temperaturas escaldantes com alertas amarelos.
Na mala levamos pouca roupa e o traje de banho. No banco de trás dois amigos, dos bons. Dois dias vão parecer duas semanas. Sabe bem fugir contigo, sempre que nos apetece. e vamos fazendo férias assim, repartidas, entre uns dias de trabalho e outros de descanso.

14.7.05

Outros fá-lo-ão por mim, IV

"(...) tenho saudades daqueles tempos, em que as férias eram tão grandes que não lhe viamos o fim. em que a vida era simples e o futuro risonho. em ríamos com coisas simples e sonhávamos de manhã à noite. (...)"
.
by inês, in um bigo meu

Outros fá-lo-ão por mim, III

"quando se gosta de uma pessoa simples, também se escreve mais sobre as coisas simples. o que também é uma justificação da condição de ser mínima."
.
by
claire lunar, in little black spot

13.7.05

12.7.05

Outros fá-lo-ão por mim, I

"(...)
Então lembrei-me do que se diz,
e pensei que viver é a mesma coisa,
vivemos tanto melhor
quanto menos pensamos nisso,
quanto menos nos preocupamos com isso.
.
E nunca mais me esqueci."
.
by Luís Ene, in 1001 pequenas histórias

11.7.05

Exmos. Srs.,

Para quem ainda não tinha percebido, este blog atravessa uma crise de identidade. Talvez os quase 365 dias de existência tenham alguma influência. Ou então a passagem da mítica barreira das 10 mil visitas. Neste momento está a ser efectuado um balanço, ponderando-se, inclusive, a realização de um referendo sobre a continuação ou suspensão do mesmo.
Esperamos ser breves na resolução do problema e lamentamos quaisquer inconvenientes causados com a pausa que se avizinha.
.
Sem mais de momento, somos atenciosamente,
.
A Gerência

Bom dia

com alegria! Uma boa semana para todos!
.
PS - A vida é bela, a gente é que dá cabo dela!

8.7.05

Hoje,

só tenho ouvido canções fantásticas. Bonitas, mesmo. Estou cheia de sorte. E sinto-me romântica, capaz de fazer um disparate dos grandes, por Amor. Tudo, por Amor.
I'm a spoiled girl...

A calma da vida


Além de ver um bebé a mamar no peito da mãe, não há coisa que me transmita mais paz que um sono tranquilo de um ser indefeso. Protegido do mundo, das bombas, do terror, por um breve soninho descansado.
E só me lembro de cantar Zeca Afonso...
.
Dorme meu menino a estrela d'alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será pra ti
ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô
Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar
Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor
Perde a estrela d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme qu'inda a noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer

6.7.05

Sem açúcar [3ª parte]

Começou a sentir o cheiro quente do café e, involuntariamente, sentiu o coração bater mais forte. Lembrou-se do quanto tinha amado com sabor a café. Recordou também que esses amores tinham durado pouco mais do que três chávenas caseiras. Tremeu, mas esperançou.
Lá em baixo, também ele tinha esperanças de agradá-la, de agarrá-la pelo estômago, já que a alma se lhe parecia difícil de agarrar. Sabia que não ia ser fácil. Preparou um pequeno-almoço à filme americano, com panquecas incluídas. Ela gostava de cinema. Talvez fosse nessa. Seria posto à prova. Sabia disso.
Saiu do duche frio, já livre dos suores e do pó. Estava ansiosa por provar daquele café.
Viu-a chegar ao topo das escadas, de toalha enrolada no alto da cabeça, em forma de turbante.
Começou a descer devagar, enquanto se perguntava porque é que a Björk havia sido substituída por... por... O que era aquilo?
A toalha branca deixara escapar, na nuca, uma mecha de cabelo que lhe atribuía um ar despreocupado e sensual. A pele parecia mais morena ainda, em contraste com a brancura da toalha.
Sentou-se no banco alto, no pequeno balcão da kitchnet. Sorriu – por dentro – quando viu as flores em cima da mesa. Esperou pela chávena de café.
Disse-lhe um bom dia que não mereceu resposta, mas desculpou – deve estar encantada, pensou. Ou então odiou, repensou. Queres café? – a prova de fogo começara.
Por favor, mas sem açúcar.
.
N.A. – Amargo como era, esquecera-se da sua doçura e já havia posto açúcar na cafeteira do café, que, por acaso, cheirava bem.

5.7.05

Sem açúcar [2ª parte]

Acordou enregelada, no chão, debaixo da cama. Demorou a perceber onde estava, mas pelas caixas forradas a papel de embrulho conseguiu localizar-se. Afastou os rolos de pó que se haviam formado perto de si, espirrou e arrastou-se para fora. Quando se ergue sobre os joelhos, notou que estava do lado dele da cama. Olhou-o com um misto de ternura e de alívio. Estava em terreno seguro. Sentia-se protegida junto dele. E por isso esboçou um sorriso tímido, não fosse ele acordar de repente. [mal sabia ela...]
Viu-lhe os dentes brancos a espreitarem por entre os lábios perfeitos, vermelhos, bem desenhados. Não dormira toda a noite, a tentar perceber porque chorava ela. Ficou preocupado com os gritos que ouvira no sono dela. Estava agitada e só tentava perceber o que se teria passado naquela noite. Não a quis incomodar. Nunca a acordou, pois sabia que não era bom acordar-se sonâmbulos e acontecia muitas vezes ela levantar-se durante a noite, inconscientemente. Tocara-lhe apenas na mão, para tentar acalmá-la. E foi quando ela fugiu para debaixo da cama, num gesto demasiado repentino para ter sido involuntário. Ela não o queria. Era certo. [mal sabia ele...]
Na casa-de-banho a água corria outra vez. Está cheia de calor, pensou ele. e levantou-se, desceu as escadas e começou a preparar o pequeno-almoço.
.
N.A. - Naquela manhã não pôs o CD da Björk. Escolheu Sérgio Godinho, "O primeiro dia".

4.7.05

Sem açúcar, [1ª parte]

Já a noite ía longa quando chegou a casa. Meteu-se imediatamente na banheira, sem perceber que ele ainda a esperava. Ligou a água quente no máximo, ouviu o esquentador a disparar e despiu-se, como quem rasga a alma magoada. Entrou na banheira e sentiu a carne contrair-se pelo calor intenso da água. Só assim conseguirira lavar-se da noite passada atrás do balcão. [Se ao menos tivesse sido só isso...]
Cinco minutos de duche e já a bruma se intensificava na casa-de-banho. O vapor começou a escapar-se pela porta entre-aberta e ele, que por ela esperava há horas, deixou-se embriagar com o cheiro a pêssego do gel duche. Quase em sono profundo, foi até países cujo nome sabem a fruta e em todos eles fez amor com ela. [se ao menos não fosse apenas em sonhos...]
Escaldada, purificada, relaxada e lavada pela água quente, desligou a torneira e esperou pelo silêncio do esquentador apagado. Esperou mais, na esperança de não o ter acordado. Puxou a toalha que nunca havia sido lavada com amaciador. As rugosidades serviam-lhe de esfoliante nas costas, na cara, nos braços e no ventre. Besuntou-se com cremes baratos, penteou os cabelos com os dedos inchados pelo calor. Lavou os dentes a olhar-se no espelho. Percebeu que tinha estado sempre a chorar.
.
N.A. - Nessa noite não vestiu roupa interior. Deitou-se à espera que lhe levassem o corpo, sendo que a alma já não era sua. Estava lavada. Podiam-na levar.

1.7.05

Explosões




A força de viver que serve de combustão à minh' alma é quente e explosiva. Quando fazemos amor, sempre que fazemos amor, sei que o mundo assiste à luz que transborda do meu corpo. E ilumina os pobres d' alma, os sedentos de abraços, os perdidos de amor.
.
foto by Elias Luís